Questões binárias são simples de resolver. Mesmo que sejamos absolutamente ignorantes, a chance de acerto é de 50%. O conflito do Oriente Médio não é assim. A complexidade é a única certeza. Vejamos o caso dos reféns. Calcula-se que existam hoje mais de 200 civis sequestrados pelo Hamas na Faixa de Gaza. Abaixo, algumas das opções postas no tabuleiro:
1) Não negociar e atacar até que todos sejam libertados, correndo o risco de, nos ataques, matar pessoas inocentes e os próprios reféns ou de que os terroristas os assassinem por vingança.
2) Não negociar, não atacar e apostar que a diplomacia resolva. Pode levar anos, ou nunca acontecer, o que motivaria uma avalanche de acusações de omissão e de fraqueza.
3) Negociar e tentar a libertação de todos, correndo o risco de, ao ceder, incentivar que mais sequestros ocorram.
4) Negociar, mas dizer que não negociou. Isso pode ser feito por terceiros, sejam eles americanos, europeus ou até mesmo por países árabes que já assinaram a paz com Israel. Mais cedo ou mais tarde, todos ficariam sabendo.
5) Não negociar, mas parecer que está negociando, para reduzir a pressão das famílias e da parcela da opinião pública que considera a preservação das vidas dos reféns o mais importante nesse momento.
Complicado? Tem mais. Em nome desse exercício simulado, escolha em qual papel você se colocaria na hora de decidir o que fazer:
1) Refém nas mãos do Hamas.
2) Filho ou pai de um refém.
3) Governo de Israel.
4) Pacifista.
5) Cidadão brasileiro que está a milhares de quilômetros de Israel, mas tem sua opinião.
6) Árabe-palestino que reivindica o seu Estado, mas é contra o terrorismo.
7) Jornalista de opinião.
8) Soldado do exército de Israel.
Uma dezena de outras variáveis poderiam ser acrescentadas a esta equação. Não há alternativa sem dor. O que há, e divide o conflito claramente em dois lados, são os valores. Nesse caso, e em tantos outros, tão importante quanto a escolha de um caminho, é a base moral e ética que leva à decisão. Mais do que a raiva ou o desejo de vingança, é preciso pensar no futuro. Não como um objetivo romântico e utópico, mas como uma oportunidade de construir um mundo com mais valor humano, econômico, cultural, social e político. Pessoalmente, sou contrário a qualquer negociação que envolva terroristas. Mas se estivesse nas situações 1 ou 2 da minha segunda lista, provavelmente eu passaria por cima dessa crença. Gritar e brigar é fácil. Difícil é compreender as muitas razões em jogo. Isso quando há razão, o que não é o caso dos que apoiam, relativizam ou se calam diante da barbárie.