Entre tantos movimentos recentes no tabuleiro da guerra, um se destaca pelo seu significado monumental. Enquanto foguetes eram disparados de um lado e de outro das fronteiras de Israel, o primeiro-ministro da Alemanha, Olaf Scholz, desembarcava em Tel Aviv. “Como eu já afirmei no parlamento do meu país, em tempos difíceis, a Alemanha tem apenas um lugar para estar, e é ao lado de Israel”, disse o chanceler. A declaração tem uma gigantesca dimensão histórica, porque conversa, ao mesmo tempo, com o passado, com o presente e com o futuro.
Se há 80 anos alguém afirmasse que essa frase seria pronunciada por um chefe de governo alemão, seria chamado, com razão, de louco.
Em 1943, a Alemanha nazista executava um plano de extermínio dos judeus. Seis milhões foram assassinados. Naquela época, o mundo se encontrava mergulhado em uma guerra, e a esperança de paz parecia distante. Até que ela chegasse, mais de 70 milhões de pessoas morreram, entre elas milhões de alemães.
A guerra terminou em 1945. Três anos depois, a ONU decidiu pela partilha da Palestina em duas, uma árabe, a outra judia. Surgiam, assim, Jordânia e Israel.
A Alemanha é hoje um país plural e democrático. Talvez por isso, compreenda o que realmente está em jogo no Oriente Médio. Guardadas as devidas proporções históricas, os alemães sabem o que significa ser governado por um Hamas. E aprenderam com isso. Uma vez, o rabino Henry Sobel, falando sobre as novas gerações de alemães e de judeus, me disse algo que guardo até hoje: “Não podemos absolver alguém pelo que fez contra um terceiro, assim como não podemos culpar seus descendentes pelos crimes cometidos no passado”. Não se trata aqui de minimizar os erros de um dos períodos mais sombrios da humanidade, mas sim de compreender o que aconteceu desde então. Hoje, tenho orgulho da minha ascendência e da minha cidadania alemãs. Meus avós, Erwin e Lilly, sobreviventes do Holocausto, me ensinaram que, se não podemos mudar o passado, que ele ofereça as lições para construir um futuro melhor. É por isso que acredito na paz. É por isso que fui tomado pela emoção quando vi o chanceler alemão em Tel Aviv. É por isso que antevejo, um dia, israelenses e palestinos convivendo e cooperando. A palavra que dá título a esse texto quer dizer esperança, em alemão.
Só lamento, assim como aconteceu na Segunda Guerra, que tanto sofrimento pavimente esse caminho. Poderia ser mais fácil se aproveitássemos o que a História tem a nos ensinar.