Denúncia: conceitos torturados pelas ideologias clamam por justiça, mas não são ouvidos. Dois, em especial, pedem socorro. O primeiro é “diversidade”, mais usado, atualmente, como munição do “nós contra eles”. Steven Johnson, no livro De Onde Vêm as Boas Ideias, escrito em 2010, acaba com qualquer dúvida. Apresentando dados técnicos e científicos, comprova a maior eficiência econômica dos ambientes povoados por pessoas e ideias diferentes. É neles que a inovação prospera. Há também a dimensão ética, humana e social desse processo, igualmente importante. Uma ponte sólida, ainda bem, liga esses ativos intangíveis à geração concreta de valor. Mania de separar o que, no fundo, é uma coisa só.
O segundo conceito que sofre espancamento público constante é “liberdade individual”. Desde quando um campo político tem o monopólio da obviedade? O que os mais afoitos esquecem, na ânsia de escravizar o significado da expressão, é que a liberdade individual só é possível quando o coletivo funciona. E vice-versa. O absoluto respeito ao indivíduo não passa pelo desprezo ao pensamento coletivo. É exatamente o contrário. Um não sobrevive sem o outro. Um leva ao outro. E nós aqui, envolvidos em uma queda de braço absurda para provar qual metade do mesmo cérebro tem razão.
Culpa, também, dos oportunistas da moderação. Ocupar espaço é o que importa, mesmo que, na eleição passada, tenham contribuído de forma decisiva para o que hoje juram rejeitar.
Vai aí um desabafo: é dura a vida de quem resiste à polarização. Ando sem assunto em muitos dos meus grupos de WhatsApp. E só vai piorar até outubro. De fato, o radicalismo deveria ser o inimigo comum de quem realmente é patriota, humanista, defensor da liberdade individual e da diversidade. O que vejo no meu país hoje, infelizmente, são narrativas ardilosamente construídas para abocanhar o poder, inspiradas unicamente pelo impulso da destruição, da polarização e da demonização do outro lado. Anote aí: mais uma vez, não elegeremos um presidente, mas sim alguém que impedirá “o candidato que eu odeio” de chegar ao poder. A vitória do “anti” gera euforia passageira e uma sensação efêmera e intensa de alívio. O problema, que deveria ser solução, se chama o futuro. Para que ele seja luminoso, não basta vencer a guerra contra uma ideia forjada, genérica e imprecisa do mal. É preciso saber onde e como queremos chegar. Mas aí não adianta gritar. É preciso ouvir.