Vai entender. A que eu cuidava, murchou. A que eu esqueci, cresceu. Duas plantas tiveram trajetórias apostas durante o ano aqui no meu apartamento. A primeira estava em uma estande. Todos os dias eu passava por ela, olhava, dava oi e tirava as folhas secas. Regava duas vezes por semana. Tudo ia bem até que, em novembro, subitamente, ela secou. Do nada. Tentei mudar de lugar, regar mais, regar menos.
Não adiantou.
Faz algum tempo ganhei uma planta com flores, dessas que se compra no supermercado, em um vaso de plástico. Cumprido um ciclo curto, as flores murcharam, as hastes secaram, as folhas caíram. Cortei tudo e depositei o vaso, só com terra, dentro de um deck de madeira, sem luz e sem água. Minha ideia era, quem sabe, usá-lo no futuro para uma nova muda. Botei lá e esqueci.
Meses depois, em novembro, durante uma faxina, abri a porta na parte inferior o deck e deparei com três grandes caules verdes, que nasceram apenas com as réstias de sol e de chuva que escorriam pelas frestas estreitas da madeira. Agora, tenho três flores lindas, sem que eu nada tenha feito para isso. Parece nome de livro: “As flores do esquecimento”. Um dia, ainda vou escrever. Acho até que já comecei.