André Mendonça tem tudo para ser um bom ministro do STF. Desde que supere um desafio que o perseguirá por muitos anos. Tudo o que disser e decidir será avaliado sob o rótulo nele colado por Jair Bolsonaro: “terrivelmente evangélico”. Mais do que um critério de decisão presidencial para a indicação, a designação é um tema que toca a todo o STF e à justiça brasileira, porque traz para um ambiente necessariamente laico um componente fortemente religioso.
Cada um dos magistrados brasileiros tem a sua fé, ou a falta dela. No contexto de democracia e de pluralidade, isso bom e necessário. Mas esses são temas que devem permanecer invisíveis sob a toga. Tanto faz no que um juiz acredita, desde que acredite, antes, na Constituição.
Mais do que a posse de um evangélico, o que acontece hoje é a quebra de um paradigma no Brasil, onde religião e Estado devem permanecer o mais separados possível, para o bem de ambos. O tempo dirá até que ponto esse texto faz algum sentido. Mas se há algo a cuidar, é para que o Estado brasileiro, em suas várias dimensões, não seja sequestrado por tensões alheias ao seu real propósito.