A pauta daquela noite era promissora. Ao vivo, no estúdio, eu conversaria com a atriz Beatriz Segall. Um assunto não poderia faltar: Odete Roitman, é claro, a vilã mais famosa da história das telenovelas brasileiras. Desenvolvi uma técnica muito pessoal para preparar entrevistas. Ler sobre a biografia dos entrevistados e ficar curioso. Nunca gostei de combinar antes, mas havia exceções. Aquela era uma delas. E o desenrolar dos fatos provaria que eu estava certo.
Meia hora antes de o Estúdio 36 entrar no ar, na TVCOM, fui até a sala dos convidados. Me apresentei. Beatriz Segall, que nos deixou em 2018, foi extremamente simpática. Sua fisionomia mudou radicalmente, porém, quando eu disse: “Vamos falar sobre Odete Roitman, ok?”. Ela ficou séria. Segurou uma das minhas mãos e pediu, em tom de súplica: “Meu filho, por favor, não. Essa novela (Vale Tudo, 1988-1989) terminou há anos e eu não consigo falar sobre outra coisa. Por favor, não”. Seus olhos ficaram úmidos, juro.
Me assustei com a intensidade da reação. Eu precisava pensar rápido.
“Dona Beatriz, compreendo perfeitamente. Mas é a primeira entrevista que a senhora me concede e se eu não tocar nesse tema, o público vai ficar frustrado. Quem sabe eu lhe faço uma pergunta sobre a Odete, uma única, a senhora responde rápido e aí eu mudo de assunto?”.
Ela topou. E acabou falando mais do que eu esperava sobre a personagem que lhe abriu, ao mesmo tempo, as portas do sucesso e do inferno. Aliás, há quem jure que, muitas vezes, é a mesma porta.