Encontrei no final de semana o Paulo Afonso Feijó, empresário que foi vice-governador do Estado. Conversávamos sobre as mortes dos dois bombeiros no prédio da Secretaria de Segurança do Estado, quando o Feijó indagou:
— Imagina se fosse um edifício privado?
Fiquei pensando na provocação. Se duas pessoas tivessem morrido soterradas em um prédio privado antigo, mal conservador, sem PPCI definitivo e notoriamente modificado por reformas e puxadinhos sucessivos e não devidamente registrados, o dono estaria preso. A reputação das eventuais marcas envolvidas estaria destruída nas redes sociais e as autoridades dariam discursos inflamados prometendo investigações severas e punições.
Mas o prédio que veio abaixo depois de uma hora e meia de incêndio, contrariando a lógica e a expectativa técnica, era da Secretaria de Segurança Pública. Deveria, por isso, ser o mais seguro do Estado. Não era. Desabou como um castelo de cartas. Doze dias depois, com o brilho das Olimpíadas que preenche as conversas, quase ninguém mais fala no assunto. Os bombeiros foram homenageados, os políticos estiveram no velório e as famílias vivem seus lutos. Enquanto isso, os prédios públicos mal cuidados seguem imunes ao rigor cobrado, corretamente, dos cidadãos comuns.