O presidente acorda pela manhã, conversa com os filhos, sai para trabalhar e muda seis integrantes do seu primeiro escalão. Esse hiper resumo da história recente do Brasil ilustra bem uma das maiores limitações do governo Bolsonaro. Nada mais nocivo para a tomada de decisão do que uma “assessoria de bolha". Bolha no singular, não no plural.
Espera-se que decisões de ampla repercussão, quando tomadas por um presidente – de uma empresa ou de um país –, sejam amadurecidas com a análise e ponderação do maior número possível de variáveis relevantes. E, para isso, é preciso conversar, principalmente com quem vai dizer o que não se quer ouvir. Não é o caso de Bolsonaro. Ele não testa suas hipóteses, porque as considera certezas. Depois, sai correndo atrás, em busca de remendos. Diz, desdiz, depois diz que nunca disse. E muito antes pelo contrário.
Bolsonaro não tem pontes. Divide o universo em “amigos” e “contra mim”. Bolsonaro entende lealdade como concordância eterna e alinhamento total.
O presidente de uma grande empresa me falou, alguns anos atrás, sobre as dificuldades da solidão do poder. “Tenho qualidades que conheço e os outros conhecem. Tenho defeitos que conheço e os outros conhecem. Meu desafio é estimular que me alertem sobre os defeitos que os outros conhecem em mim, mas que eu não conheço”.
Essa frase soaria grego para Bolsonaro. Quem manda não te defeitos. Defeito é não obedecer.