Em uma democracia, militares não apoiam governos, nem fazem oposição a eles. Em um país polarizado, essa neutralidade é de difícil compreensão e acaba gerando reações de ambos os extremos. É exatamente o que acontece hoje no Brasil.
Para Jair Bolsonaro e sua bolha, não ter o apoio explícito das Forças Armadas virou motivo de preocupação. Na lógica paranoica do presidente, quem não está com ele, está contra ele. Por isso, fez o que fez. Mudou, de supetão, o ministro e os comandantes das Forças, gerando um estresse absolutamente improdutivo. Em uma democracia, as Forças Armadas não batem palmas para governos ou vaiam presidentes.
Já os opositores mais combativos do governo enxergam o silêncio das Forças Armadas diante do caos e da gestão errática de Bolsonaro como cumplicidade e concordância. Não é. Forças Armadas são uma instituição de Estado. E assim têm se comportado, até quando Lula esteve no poder.
Por mais paradoxal que possa parecer, as Forças Armadas brasileiras estão sendo vítimas do radicalismo no debate público. De fato, uma nova geração de oficiais, comprometida com a democracia, tem zelado para que a instituição se mantenha fiel aos preceitos constitucionais que balizam de forma clara o papel da Marinha, do Exército e da Aeronáutica. Quando essa linha é cruzada, em geral, já é tarde demais para conversar. Por isso, esse limite é sagrado e precisa ser respeitado com absoluto rigor.
Outra confusão comum e que acabou, justificadamente, contaminando a percepção da opinião pública é gerada pela presença de tanta gente que já vestiu farda no primeiro e no segundo escalões. Com pouquíssimas exceções, os cargos mais elevados são ocupados por militares da reserva, aposentados, que não têm qualquer relação funcional ou hierárquica com a tropa. O ex-ministro Eduardo Pazuello era uma exceção que, aliás, gerava desconforto entre seus colegas.
Logicamente, há simpatias e antipatias individuais nos quartéis. Há também a defesa de interesses institucionais e práticos nas esferas dos poderes da República. Faz parte da democracia. Mas, de fato, desde a redemocratização, as Forças Armadas vêm servindo como fator de equilíbrio e estabilidade. Os terríveis erros do movimento de 1964 deixaram lições, mas não deixaram saudades.