É animador poder conversar civilizadamente sobre a mudança no hino rio-grandense. Há argumentos de ambos os lados. E nem todo mundo que defende a manutenção da letra atual é, necessariamente, racista. Essa seria mais uma simplificação burra, da qual devemos todos fugir. Por outro lado, ainda me assusto com o grau de agressividade e irracionalidade mostrado por muita gente. Mas esse é um viés que merecerá atenção no final desse texto.
Já externei aqui meu ponto de vista, mas como sempre tem alguém chegando pela primeira vez, peço licença para repetir. Não há por que manter no hino, que deve representar a todos, uma frase que contraria a essência desse mesmo hino ao transferir aos escravizados "povo sem virtude" a culpa pela opressão "acaba por ser escravo".
Recebi dezenas de mensagens concordando e discordando dos meus argumentos. Sinto, nesses momentos, mesmo diante da ira de alguns interlocutores, que vale a pena acreditar no poder do diálogo. De todos os retornos recebidos, um me tocou de forma especial. Veio de uma pessoa com a qual devo ter me encontrado uma ou duas vezes na vida. Não tenho qualquer intimidade com ela. Essa pessoa é ligada ao Movimento Tradicionalista Gaúcho, embora não represente ou fale em nome da instituição.
O texto que recebi dela: "A sociedade gaúcha não pode ser escrava de um verso que causa tanta divisão". E foi além: "Li mais de dois mil comentários nas postagens sobre o assunto. Vi de tudo, menos disposição para diálogo e empatia. E isto mostra o quanto o povo gaúcho está escravo desse verso".