O russo Isaac Asimov lançou, em 1950, o clássico da ficção científica "Eu, Robô". Nele, descreve as três leis da robótica, desenhadas para disciplinar a convivência entre a tecnologia e os humanos. São elas:
- Um robô não pode ferir um ser humano ou, permanecendo passivo, deixar um ser humano exposto ao perigo.
- O robô deve obedecer às ordens dadas pelos seres humanos, exceto se tais ordens estiverem em contradição com a primeira lei.
- Um robô deve proteger sua existência na medida em que essa proteção não estiver em contradição com a primeira e a segunda leis.
No livro de Asimov, lá pelas tantas, o robô se vê em conflito entre os três pilares que norteiam a sua existência. Se torna impossível cumprir os preceitos sem contrariar, pelo menos, um deles.
Mais de 70 anos depois, trocados alguns nomes, a mesma situação se aplica à relação entre o vice e o presidente do Brasil. Longe de ser uma máquina, Hamilton Mourão enfrenta um dilema. Precisa marcar suas diferenças com Jair Bolsonaro mas, ao mesmo tempo, não pode atropelar a hierarquia e lealdade, pilares da vida militar que o general trouxe para a política.
Mourão deve se candidatar em 2022 a governador, senador ou, dependendo das circunstâncias, até mesmo presidente. Precisará marcar sua voz própria, cada vez mais, para chegar às urnas com viabilidade eleitoral.
Em 1984, Asimov acrescentou mais uma lei, chamada de "zero", que está antes e se sobrepõe às outras: "Um robô não pode causar mal à humanidade nem permitir que ela própria o faça". Esse é o maior compromisso, acima de qualquer outra hierarquia ou lealdade. Talvez, sob esse prisma, Mourão tenha ainda mais certeza sobre o caminho a seguir.