A confirmação de Carlos Bulhões como reitor da UFRGS não pegou ninguém de surpresa. O mesmo acontecerá com as reações dentro e fora da universidade. Serão muitas. Há um clima de revolta e de inconformidade em setores importantes da academia, que defendiam a indicação do primeiro colocado na consulta interna, o atual reitor, Ruy Oppermann.
Se a ideia do governo Bolsonaro era combater uma suposta influência ideológica na universidade, na prática, o que acontece é o oposto. A partidarização do debate nunca foi tão intensa, com a influência de deputados como Bibo Nunes, do PSL, que se transformou no maior avalista e padrinho político na nova gestão, sendo contestado publicamente por seu colega Henrique Fontana, do PT. Aliás, o atual reitor pode ser qualquer coisa, menos um radical de esquerda. Oppermann fez uma gestão marcada pelo diálogo com amplos segmentos da sociedade, passando pelo Exército e pelo setor privado de tecnologia e inovação.
Seria injusto qualificar uma gestão que sequer começou. Carlos Bulhões é um professor com uma carreira respeitável e, levada ao pé da letra, a indicação dele é absolutamente legal, mesmo que contestada do ponto de vista de uma tradição de respeito à autonomia da UFRGS. Mas, de fato, o novo reitor terá muitas dificuldades na sua gestão. O clima de polarização tende a se transformar em enfrentamento. Perde a universidade. O governo Bolsonaro está pronto para o conflito e sabe que ele é praticamente inevitável. Talvez seja exatamente isso o que espera. Afinal de contas, a radicalização foi uma das forças que levou Bolsonaro ao poder e é dela que importantes setores do governo se alimentam, até hoje.