O discurso de posse do ministro Luiz Fux, novo presidente do STF, é um exemplo revelador de um novo e perigoso normal. O tom político, beirando a militância, antes mal visto em qualquer esfera do Judiciário, mereceu aplausos da opinião pública nacional.
Um trecho simboliza essa realidade:
"Não permitiremos que se obstruam os avanços que a sociedade brasileira conquistou nos últimos anos, em razão das exitosas operações de combate à corrupção autorizadas pelo Poder Judiciário brasileiro, como ocorreu no Mensalão e tem ocorrido com a Lava Jato".
Foi um discurso longo, cheio de citações, mas essa foi, de longe, a mais repetida, postada e estampada nas manchetes. Poderia ter sido o de um candidato a presidente da República. E esse é o problema. É uma declaração correta, mas na hora errada e no lugar errado. A Suprema Corte é a guardiã da Constituição. Lá, mais do que em qualquer outro lugar, a lei está acima de tudo e de todos, inclusive no juiz. Quem permite ou não permite é o texto legal, não o magistrado e seus plurais majestáticos.
Nesse mesmo contexto, citar Mensalão e Lava-Jato, da forma como foram citadas, revela uma pré-disposição do julgador, o que poderia, em um contexto de normalidade, comprometer decisões futuras. Para enfrentar a corrupção e cumprir seu papel, o STF deve ser impessoal, rápido, discreto e técnico. Mas, no Brasil de hoje, nomes de ministros da Suprema Corte são mais conhecidos do que os dos jogadores da Seleção. E eles parecem adorar essa notoriedade que corrói a democracia brasileira, em um dos seus pilares de sustentação mais importantes.