Conversava, durante a semana, com um amigo queridão, muito conhecido na cidade. Ele tem o hábito, nessa época do ano, de usar roupas verdes e amarelas, desde muito tempo. Mas, ao telefone, revelou que, em 2020, está evitando as cores nacionais, "para não ser taxado disso ou daquilo". Meu amigo não é partidário e nem ideologicamente radical. Por isso, a decisão dele me fez pensar.
No Brasil, um grupo político tenta privatizar o patriotismo, assim como um outro tentou se apropriar da superioridade moral, como bem definiu o colega David Coimbra. Por isso, quando um brasileiro trabalhador, honesto e moderado tem medo de celebrar o Sete de Setembro, alguma coisa estranha está acontecendo. É preciso resistir.
A verdade precisa ser reposta. Há muitos jeitos de amar a pátria. A bandeira do Brasil é abraço, e não parede. Pode inspirar também riso e rebeldia, e não apenas um respeito que parece medo. A bandeira representa muito mais do que impõe.
Diante dela, é legítimo e belo bater continência. Mas também é gritar contra os governos, dançar chula ou distorcer o hino num solo de guitarra.
Nunca vi uma Semana da Pátria tão fosca. Tem a pandemia e a chuva, mas não é só isso. Há no ar um sentimento de que o verde e o amarelo representam apenas um lado, também culpa de quem, por anos, desprezou as nossas cores e os nossos símbolos. E assim vamos cavando abismos, enquanto acreditamos erguer fortalezas.