Eu também estou cansado de falar em coronavírus. Mesmo assim, vou levar você, caros leitor e leitora, ao limite do enfado: use máscara, lave as mãos e, se puder, fique em casa. Se você ainda está comigo, se não abandonou o texto e foi ler o horóscopo, você é uma pessoa paciente e forte. Parabéns. E obrigado. Estamos sob bombardeio de notícias e números relacionados à pandemia. Número de mortos, número de UTIs, número de infectados. Aqui, em Manaus, em Nova York e em uma pequena cidade da Nova Zelândia, onde ninguém ficou doente e as ovelhinhas pastam na grama verde.
E se puder, fique em casa. Não as ovelhas, você.
Cansativo, repetitivo, chato. Necessário?
Sim.
Não sou um cara exatamente religioso, embora compreenda e respeite o poder e a relevância da fé. Quando eu era criança, todos os anos celebrávamos o Pessach, que marca o fim da escravidão dos hebreus no Egito. E todos os anos, até hoje, a História é recontada exatamente com as mesmas palavras. Para quê? Para não esquecer.
Outro dia ouvia o rabino David Straus, da Filadélfia, falar sobre a pandemia. Ele respondia, em uma live no Zoom, à pergunta de um senhor de mais de 80 anos, que queria saber se o coronavírus era uma nova praga. Fazia referência às outras dez, que levaram o Faraó, finalmente, a libertar os hebreus da escravidão. A resposta foi: não. "Esse vírus não é moral", explicou o rabino. "E não veio porque fizemos algo errado", completou.
"Então, por que veio?", alguém perguntou. A resposta do rabino foi sábia: "Não sei".
Para que repetir tanto? É preciso repetir porque não sabemos ainda o que devemos saber. É preciso repetir para não esquecer.
E se puder, fique em casa.