Pode-se dizer tudo de Ernesto Geisel, o penúltimo presidente do regime militar, menos que fosse dado a arroubos ou se mostrasse leniente com a corrupção. Pois agora que uma parte dos seguidores de Jair Bolsonaro foi às ruas para pedir a volta do AI-5, deve-se recordar o que um dos líderes de 64 e prócer do regime, sempre arredio a falas públicas, achava do então deputado Bolsonaro.
Em entrevista em 28 de julho de 1993 para os historiadores Maria Celina D'Araujo e Celso Castro, da Fundação Getúlio Vargas, Geisel descreve sua visão sobre a baixa participação de militares no meio parlamentar.
– Presentemente, o que há de militares no Congresso? Não contemos o Bolsonaro, porque o Bolsonaro é um caso completamente fora do normal, inclusive um mau militar.
A visão do general que promoveu uma abertura "lenta, gradual e segura", e em cujo governo se enterrou o AI-5, está na página 113 do livro Ernesto Geisel, uma compilação de seu depoimento aos dois historiadores editada em 1997, um ano após sua morte.
O que Ernesto Geisel dizia sobre Bolsonaro não era – como não é até hoje – uma opinião isolada entre líderes militares.