Sem aliviar as críticas à corrupção provada pela Lava-Jato, o ex-ministro Sérgio Moro saiu do governo Bolsonaro elogiando o PT. No seu pronunciamento de despedida, reconheceu que, em nenhum momento, Lula e nem Dilma tentaram interferir politicamente na Polícia Federal. Esse ponto da fala de Moro revela o nível de tensão e de desgaste da sua relação com Jair Bolsonaro, a quem acusou formalmente de tentativa de ingerência no trabalho da PF.
Mais uma vez, o governo gera uma crise de alcance incalculável, não no embate com a oposição, mas sim nas suas relações internas. Depois de demitir Luiz Henrique Mandetta, o presidente agora perde um de seus ministros mais populares e que dava respaldo e credibilidade a uma das áreas responsáveis pela eleição de Bolsonaro: o combate à corrupção.
Ao elogiar o PT em dois momentos da sua fala, Moro desferiu um dos golpes mais precisos contra seu ex-chefe. Afirmar que Bolsonaro, do ponto de vista ético, se comporta, nesse caso, pior do que Lula e Dilma, foi o que de mais grave disse. Talvez não do ponto de vista legal, mas, ao fazer a comparação, sabe que acertou em cheio no alvo. E deve ter mais munição guardada, pronta para ser usada em caso de necessidade.
O acirramento das tensões, nesse momento, não é bom para o país. Quando a demissão de um ministro é o assunto do dia, em meio a uma pandemia que mata milhares mundo afora, esse é o sintoma de uma outra doença grave.