Um homem com idade de 79 anos, 11 meses e duas semanas chega infartado a um hospital. A recomendação é de cirurgia. O mesmo homem, com o mesmo problema, chega ao mesmo hospital, só que um mês depois, já com 80 anos e duas semanas. O mesmo médico não indica a cirurgia.
A hipótese criada por um gaúcho virou pesquisa e foi parar na maior revista médica dos Estados Unidos e do mundo, o New England Journal of Medicine. O estudo comprovou que, logo depois de completar 80 anos, a chance de alguém que chega a um hospital com um infarto agudo ser submetido a uma cirurgia cai 24%.
André Zimerman, formado pela UFRGS em 2016, conduziu a pesquisa juntamente com colegas e professores de Harvard, onde também estudou. André avalia que a principal contribuição do trabalho é mostrar que, também na medicina, existe uma categorização falsa baseada em percepções subjetivas. A repercussão tem sido enorme. O The New York Times publicou uma reportagem sobre o tema.
Perguntado sobre os motivos que levariam os médicos a mudar o tratamento diante de um intervalo praticamente insignificante de tempo, André prefere não falar em preconceito, mas na percepção – muitas vezes questionável – de que um paciente com mais de 80 anos não conseguiria suportar uma intervenção delicada – e que um com menos de 80, teria melhores chances.
A lógica pode ser comparada à utilizada na percepção dos preços nas lojas. Pagar R$ 99,90 por um produto parece bem mais vantajoso – ou menos arriscado – do que pagar R$ 100,00, mesmo que diferença real seja ínfima. André está iniciando a residência em cardiologia. Nesse caso, vale a máxima de que o fruto não cai longe do pé. O jovem médico é neto de David E. Zimerman, um dos pioneiros da psiquiatria gaúcha, e filho de Leandro Zimerman, um dos mais respeitados cardiologistas do Brasil.