O jornalista Caio Cigana colabora com o colunista Tulio Milman, titular deste espaço.
A cada dezembro, surge uma avalanche de projeções sobre o ano que está por vir. Para as mais diversas áreas, da economia ao futebol, sempre baseadas em uma lógica assentada sobre as informações disponíveis até aquele momento, com os seus desdobramentos naturais. Mas o que é possível prever com alto grau de certeza é que muitos acontecimentos imprevistos irromperão ao longo de 2020. Assim é a História, com episódios de guerras, tragédias naturais, descobertas científicas ou epidemias que alteraram o curso da humanidade, de países, ou apenas a vida de uma pessoa.
Quem diria, em dezembro de 2018, que em janeiro uma nova barragem de mineração se romperia, deixando mais de 250 vítimas fatais? Quem imaginaria que uma onda de protestos sacudiria o Chile, considerado exemplo de estabilidade na América do Sul? E as inexplicáveis manchas de óleo no litoral do Nordeste? Voltando um pouco mais no tempo, quem poderia prever uma facada em um candidato à Presidência? Uma greve de caminhoneiros que paralisaria o Brasil? As jornadas de 2013? A Lava-Jato e suas consequências?
A discussão sobre o impacto de acontecimentos improváveis, raros ou subestimados é objeto do livro A Lógica do Cisne Negro, do libanês naturalizado americano Nassim Taleb.
O título faz referência à certeza dos europeus, até o final do século 17, da existência apenas de cisnes com penas brancas, até que, surpresos, descobriram uma espécie de cor preta, na Austrália.
A obra escancara o fato de que estamos sempre sujeitos à imprevisibilidade. O resultado surpreendente de eleição, uma crise, a descoberta da cura de uma doença, o fim traumático de um relacionamento, um novo amor, uma demissão, uma repentina e empolgante oportunidade.
Planejamento é sempre positivo. Previsibilidade é desejável. Mas não se pode esquecer que o aleatório está sempre à espreita, para o bem e para o mal.