Nada como um inimigo comum e poderoso para unir forças que se atritam. Por mais que muitos não percebam, a eventual soltura de Lula ajudaria Jair Bolsonaro a consolidar o seu discurso conspiratório. Com isso, voltaria a agregar ao seu redor todas as forças que o elegeram em 2018 – liberais, conservadores, evangélicos, militares e a classe média com ressaca da esquerda.
Um dos últimos gestos de Alberto Fernández antes de ser eleito presidente da Argentina foi o L de Lula Livre, um chavão que ganha força nos recentes movimentos sociais e políticos que pegaram a América do Sul de surpresa. Independentemente da análise jurídica, que deveria ser preponderante desde o começo, é ingenuidade pensar que a saída do ex-presidente petista da cadeia seria uma vitória da esquerda.
Ao contrário. Os efeitos políticos da vitória da impunidade e da corrupção, argumentos que já vem sendo usados na construção da narrativa bolsonarista, acirrariam e legitimariam a polarização. É Lula botar o pé para fora da cadeia para que liberais e conservadores, que descobriram não se amar tanto assim, voltem a se abraçar.
Se nosso STF se preocupasse menos com holofotes e vinganças e mais com a Constituição, não seria assim. Quando a última palavra é gritaria, todos estão autorizados a berrar.