Existe um velho ditado que diz assim: “Quando a gente fala sobre números, é só apertar que eles confessam”. O debate sobre o reajuste do IPTU de Porto Alegre está cheio de lados e de argumentos – quase todos verdadeiros, mas apenas alguns aceitáveis.
Olhando pelo lado da prefeitura, faz sentido argumentar sobre a defasagem do imposto. Mas mesmo com a defasagem, já pagamos demais, se levadas em conta a qualidade e a quantidade dos serviços que recebemos de volta. A máquina pública é cara e engessada. Vejam o exemplo da Carris, que teve sua privatização anunciada na campanha caso continuasse a dar prejuízo –continua, mas até agora, o processo caminha devagar.
É óbvio que esse projeto de reajuste do IPTU vai retirar mais dinheiro dos contribuintes para engordar o caixa do Executivo. Se não fosse assim, não teria sido apresentado. A prefeitura quer mais recursos. Precisa deles. Mas, olhando pelo lado da sociedade, a carga tributária já é absurda e tudo sai do mesmo bolso – IR, IPVA, ISSQN, ICMS, IPTU, taxa disso, taxa daquilo – sem falar nos pedágios. Para quem paga, é tudo imposto – mais uma vez, com retorno baixo. Se muito vai para Brasília e pouco fica aqui, mude-se a ordem, mas não puna-se quem já é punido.
Os governos, até mesmo os bem intencionados, se elegem prometendo cortes e eficiência. Tentam com todas as suas forças mas, quando se dão conta de que as corporações e ferrugem do sistema são duras de enfrentar, acabam apelando para a mais fácil e injusta das soluções: retirar de quem trabalha e produz para sustentar uma engrenagem emperrada. A nós, cabe resistir, mesmo entendendo os motivos e as boas intenções da prefeitura.