É estranho que o presidente Jair Bolsonaro não defenda publicamente seu vice dos ataques de Olavo de Carvalho. O filósofo chamou Hamilton Mourão de “idiota”. Ontem, Bolsonaro e Olavo jantaram juntos nos Estados Unidos, com direito a foto postada em rede social.
Na década de 1990, o ministro Sérgio Motta tinha dupla função no governo. Cuidar das Comunicações e distribuir bordoadas nos críticos do presidente Fernando Henrique Cardoso. Tanto, que ganhou o apelido de trator.
Duas décadas e meia depois, Olavo de Carvalho se credencia para a missão de pitbull do presidente, a quem jamais atacou. Suas críticas são direcionadas a enfraquecer a ala militar do Planalto, não o presidente. Duas diferenças, porém, emprestam contornos peculiares ao quadro atual.
- Fernando Henrique Cardoso era calmo e conciliador.
- Sérgio Motta, o Serjão, atropelava os adversários fora do Planalto, jamais dentro.
No governo atual, a relação entre presidente e vice enfrentou seu primeiro obstáculo na campanha, quando o general Mourão externou posições próprias e foi duramente desautorizado pelo capitão Bolsonaro. Mourão tem recebido elogios até mesmo da oposição, por sua postura mais serena e pelo rápido aprendizado dos atalhos da vida civil. A desconfiança em relação ao vice não é novidade e já mereceu declarações dos filhos do presidente.
Voltando aos anos 1990, entrevistei Sérgio Motta na TVCOM. Era o auge do governo FHC. Comigo, na bancada, estava o também jornalista Diego Casagrande, que perguntou ao ministro como ele se sentia sendo chamado de trator.
– Eu sou trator, mas quem põe gasolina é o presidente – respondeu, bem humorado. Pitbulls são cães de ataque. É raro mas, algumas vezes, se voltam contra seus donos. Aí, o estrago é grande.