O documento entregue pelo presidente Bolsonaro ao Congresso tem alguns bodes na sala. Faz parte da estratégia básica de negociação: apresentar uma proposta com itens previamente descartáveis. Quando eu cobria a Assembleia, era comum um projeto sair do Piratini com algum artigo natimorto. O objetivo era compartilhar o protagonismo. Um deputado ou partido propunha a alteração previamente acertada, o governo acatava e todos saiam no lucro perante os eleitores.
O deputado Onyx Lorenzoni, um dos alfaiates da relação com o Congresso, sabe disso. A proposta da reforma entregue hoje já tem os anéis os dedos escolhidos. Não saberemos exatamente quais são até que o jogo efetivamente comece. E nem saberemos se a margem de negociação será suficiente para garantir a aprovação.
O momento indica um caminho claro, mas nem por isso animador. A reforma possível está cada vez mais longe da ideal. Se aproxima a hora da verdade. Em breve saberemos quais os efeitos de negociar com bancadas suprapartidárias em vez de partidos, da presença de Sérgio Moro no governo, do protagonismo de Onyx Lorenzoni e do imbróglio com o ex-ministro Bebianno.