O Banrisul é uma pedra no sapato dos grandes bancos privados. Há três no Brasil: Bradesco, Santander e Itaú. Um banco público estadual, ainda por cima lucrativo e saudável, é uma afronta a um sistema hiperconcentrado. Nem tanto pelo seu lucro, pequeno se comparado ao dos players hegemônicos, mas pelo que representa, simbolicamente.
O sistema bancário brasileiro é a antítese da livre concorrência e da liberdade. Quase todos os candidatos, inclusive Jair Bolsonaro, apontaram esse absurdo durante a campanha. A distorção começou na década de 90, quando o governo Fernando Henrique Cardoso, acertadamente, criou dois programas de saneamento e reestruturação do sistema financeiro, um público e outro privado. O resultado foi o fechamento de bancos mal geridos ou sem sustentação econômica. Faltou o próximo passo, que seria arejar o mercado. Em vez disso, ele foi se concentrando.
Enquanto isso, nos últimos anos, boa parte das grandes empresas gaúchas fechou, se bandeou para fora do Estado ou mudou de dono. Copesul, Ipiranga e Vonpar são apenas três exemplos. A Gerdau, outra de nossa gigantes, enfrenta com bravura momentos de turbulência e também transferiu parte de seus escritórios para São Paulo. Vinham delas boa parte dos investimentos na cultura e no esporte locais. Fica difícil imaginar um executivo, na avenida Paulista, sensibilizado com um pedido de apoio da Feira do Livro de Porto Alegre, ou com um eventual patrocínio a Inter e Grêmio – mais do que um favor, um bom negócio para uma empresa que atua no Rio Grande do Sul.
Se um grande banco paulista comprar o Banrisul, uma das suas primeiras decisões será a de fechar duas centenas de agências no Interior. O Estado perderia também poder de decisão local sobre o crédito, transferindo a palavra final para a terra da garoa.
O debate sobre privatização é quase sempre falacioso. Tanto faz quem é o dono, desde que funcione e cumpra com a sua missão. No caso de um banco local, é prestar bons serviços e dar lucro. O Banrisul faz os dois.
Privatizar o Banrisul é tão absurdo quanto não privatizar ou manter aberta uma penca de estatais falidas, que prestam serviços ruins e servem de cabide de emprego político. Pelos mesmos motivos.
No caso do Banrisul, o debate é ainda mais estéril porque o governador eleito, a exemplo de seu antecessor, já descartou dezenas de vezes uma eventual venda. Resolver a adesão do RS ao programa de ajuste fiscal é uma tarefa para qual Eduardo Leite se habilitou, voluntariamente. Caberá a ele e a sua equipe encontrarem uma solução. Manter o Banrisul sob o controle do Estado não é gauchismo nem questão de honra. É uma questão racional, pelo menos enquanto o banco continuar sendo o que é.