Fiquei especialmente empolgado quando vi a pauta daquele dia no Estúdio 36, programa de entrevistas da TVCOM fundado pelo Lauro Quadros e apresentado por mim durante oito anos. Beatriz Segall era a estrela da noite. Assim como boa parte dos artistas globais que vinham a Porto Alegre com suas peças de teatro, ela também cumpria uma agenda de divulgação.
Antes da entrevista, fui à sala de espera conversar com ela. Sorridente e educada, me recebeu. Nunca gostei de ensaiar ou combinar entrevistas, mas, de vez em quando, era fundamental. "Dona Beatriz, vou lhe fazer uma pergunta sobre a Odete Roi...". Não terminei a frase.
Me assustei quando Beatriz Segall segurou a minha mão e, com olhos úmidos, me implorou: "Por favor, meu filho, não...". Ainda surpreso, perguntei: "Mas por quê?".
A novela Vale Tudo já acabara há mais de dez anos. "Em todo esse tempo eu só falo disso, não aguento mais, por favor". Ela estava séria, até hoje me lembro de uma lágrima presa. Argumentei: " Eu entendo, mas preciso fazer essa pergunta sob pena de ser corretamente criticado pelos meus telespectadores...".
Gentilmente, ela cedeu. Fiz o combinado. Uma pergunta, genérica, básica. E falamos sobre outros temas, até sobre uma palavra em ídiche (língua falada pelos judeus da Europa Oriental) que ela certa vez usou em uma cena. Ela me disse não ser judia, mas que, na época andava convivendo com alguém...
Nesse caso, infelizmente, a vida não imitou a arte. Odete Roitman é imortal. Guardo essa imagem elegante e gentil de uma grande atriz. E o que mais pode sonhar uma grande atriz além de ser lembrada por um grande, monumental personagem?