Yoñlu é um bom filme. Não porque é gaúcho ou porque conta a história de um guri atormentado que se matou em Porto Alegre.
É bom pela delicadeza da trama, pela fotografia bem cuidada, pela densidade, pelas animações, pela trilha e por outras coisas que, na minha condição de espectador, percebo mas não consigo explicar com o nariz empinado de um crítico. Mesmo assim, me sinto seguro para opinar, porque filmes são feitos para gente como nós, não para eles – acho.
A forma como o diretor Hique Montanari aborda o papel macabro de um grupo anônimo na internet, onde Yoñlu encontrou "não um abraço, mas um empurrão", é convincente e contundente. Gente ao mesmo tempo com e sem rosto e suas dicas frias do caminho para a morte. Um alerta correto, sem moralismo exagerado.
Fui ao cinema com as mesmas expectativas reservadas a qualquer filme, sem o coitadismo que tantas vezes prejudica a avaliação da cultura local. Saí da sala com a sensação de que faltou alguma coisa. Não percebi a dimensão da dor de Yoñlu. É como se tudo fosse apenas uma viagem. Não foi. Impossível chegar até onde ele foi sem, primeiro, cair em um abismo de sofrimento.
Precisamos falar sobre isso e, na tela, pode ser um grande desafio. A glamourização do suicídio é atraente e, em muitos casos, passa pela tangente quando roteirizada. Quase toca. E isso já é exagero.
Não só nesse caso, gente jovem que se mata de overdose, de CO2 ou de qualquer outra coisa, ganha automaticamente passaporte VIP para o mundo dos ídolos e gênios. Podem ser, mas não por isso.
Gênio é quem passa a vida driblando a morte. É quem abraça os cabelos brancos, as mudanças no corpo, a maturidade, o tempo sem vento.
Gênio é quem olha para trás sem ter tanto pela frente. E segue. Yoñlu deixou algumas músicas adolescentes que passaram a ser cultuadas, em grande parte porque ele morreu. Talvez um dia fosse um grande compositor. De verdade, sua história merece ser contata. Não tanto pelos talentos, mas pelos tormentos. Talvez tanta dor não caiba no cinema.