"Coca Cola ou água?", perguntou o mediador, ainda com o microfone desligado. Água, que o convidado bebeu no gargalo da garrafinha plástica. Sam Zell faz parte do seleto grupo dos 120 americanos mais ricos. Sua fortuna pessoal chega, pelos cálculos da Forbes, a US$ 5,1 bi. Fui ouvi-lo durante a semana aqui na Filadélfia, em um evento organizado pela Wharton School. Tive uma inesperada aula de Brasil.
O auditório de 300 lugares lotou. Estudantes de Negócios e de Direito, alguns de bermuda, outros ostentando as camisetas de suas faculdades. Muitos deles serão grandes empresários ou líderes políticos no futuro. Donald Trump estudou em Wharton. Warren Buffett também.
Zell, que se formou na Universidade de Michigan, contou a sua história. Ficou rico no mercado imobiliário. Seu primeiro negócio foi a compra de um prédio velho, com seis apartamentos. Pintou as paredes e trocou os móveis. Depois, dobrou os preços dos aluguéis.
Hoje, os negócios imobiliários representam apenas 40% do portfólio do Grupo Equity. Construindo gasodutos ou estacionamentos para motor homes, Zell se define como um gestor de riscos, ou um "oportunista profissional", título do seu colóquio na Filadélfia.
Transcorridos 15 minutos de conversa, ele começou, sem ser provocado, a falar sobre o Brasil. Um resumo:
– O Brasil é um país demograficamente atrativo para investimentos.
– Apesar de estar se recuperando de uma recessão, a nova classe média se consolidou.
– Zell está de olho novamente no Brasil. Com a desvalorização do real, os preços dos ativos estão convidativos.
– O Brasil tem níveis insatisfatórios de respeito às leis.
Entre um Brasil e outro, Zell, que comprou um grupo de mídia anos atrás nos EUA e não se deu muito bem, criticou o Facebook e o Google. "Toda a concentração exagerada de poder leva à corrupção". Para ele, se o Facebook não mudar o seu jeito de fazer negócios, vai desaparecer. Zell elevou sutilmente o tom de voz: é inaceitável que uma empresa ofereça ferramentas que permitam, por exemplo, formar redes com membros da Ku Klux Klan, disparou.
Mas a maior lição da noite veio de uma explicação genérica que teve, mais uma vez, o Brasil como exemplo. Zell só investe em países de maior risco se encontrar parceiros locais. No Brasil, procurou durante cinco anos. Até que achou a Guarde Aqui, líder no setor de aluguel de depósitos para a classe média. Locais seguros para deixar os móveis e outras bugigangas que não cabem em casa.
Foi ao falar sobre essa parceria que o bilionário revelou sua visão profunda sobre o Brasil: "preciso de alguém que me proteja do sistema político local". Zell sabe que, se tentasse desembarcar sozinho no maior país da América do Sul, seria engolido pela burocracia e pela corrupção.
O Brasil é tão perigoso que até mesmo um dos maiores caçadores do planeta tem medo de virar caça.