Também precisamos da escuridão. As luzes externas nos encantam, mas distraem e cegam. A tradição judaico-cristã nos oferece a claridade como símbolo de felicidade e de sabedoria. Para os cristãos, o brilho da árvore de Natal. Para os judeus, o candelabro de Chanuka.
Mas toda essa luz só faz sentido quando ela nasce da escuridão. Mais do que uma data, é um processo. De dentro para fora e não ao contrário.
A escuridão e o silêncio que nos obrigam a olhar para onde a claridade ainda não chegou.
A noite era ainda mais misteriosa quando o pôr do sol obrigava ao recolhimento e à introspecção. Um ciclo natural que foi ficando menor. Com a eletricidade e com a tela do computador.
Desligar para acionar outras conexões.
Um Natal e um Ano-Novo com tempo para a escuridão e para o silêncio. Seria um grande presente para nós mesmos e para todos os que nos cercam.
BOBO, CHATO, FEIO...
"Mixuruca" e "pacote de maldades". A argumentação dos deputados contrários ao pacote do governo na Assembleia estava baseada, em grande parte, nesses dois pilares. Divertidos até, mas insuficientes em um debate tão relevante. Talvez por isso a oposição tenha fracassado. Porque, mais uma vez, foi incompetente ao não apresentar uma proposta alternativa e consistente.
Os projetos de Sartori eram ruins? Ok. Qual a opção? Deixar tudo como está certamente não é uma delas. Ser do contra, de novo, sem propor uma visão alternativa, ampla e séria. Essa foi a opção de muitos. Uma pena. Perdemos mais uma oportunidade de confrontar visões de Estado. Em vez disso, fomos brindados com um cabo de guerra de bravatas. Tipo os que a gente fazia no recreio do colégio.
A infantilização só ajudou o governo.
"Mixuruca" e "pacote de maldades" viraram mantras. Foram postados nas redes sociais e repetidos com orgulho pelos seus inventores. Só faltou os deputados do governo, depois de aprovarem suas propostas, subirem à tribuna, botarem a língua pra fora e gritarem "Bu-bu-uuuu". Ainda bem que não aconteceu.
E assim vai o Nosso Rio Grande. Uns a favor e por isso, automaticamente, os outros contra. Seja do que for e não importa muito por quê. Marcar posição do outro lado. Gritando, engrossando as veias do pescoço, fingindo que está brabo com tudo e com todos. E, depois, quem perdeu só precisa torcer para dar errado.
É o nosso jeito mixuruca de ser.
Um dia a gente cresce.