Foi só por um segundo.
Foi quando minha filha mais velha nasceu. A Fernanda, minha mulher, teve uma complicação no parto. Estava cansada. Precisava dormir. Então, quem dava o leite para a Camila era eu, numa micromamadeira. Era só de vez em quando, porque a Fernanda encarou com bravura aqueles dias. Apesar da força e da vontade, muitas vezes ela não suportava o cansaço e caía no sono.
Era outubro, ainda estávamos no hospital. Nossa estadia foi um pouco prolongada. Fazia calor. Eu estava sem camisa no quarto enquanto a Fernanda dormia. Nossa filhinha, minúscula e linda, começou a chorar seu chorinho de fome. Segui à risca as instruções da equipe médica.
Preparei a mamadeirinha, me acomodei no sofá da sala de espera vazia com a Camila no colo.
Foi então que aconteceu.
Ainda desorientada e faminta, a Camila começou a emitir pequenos sons. E a buscar, com a boquinha em forma de bico, o meu peito.
Sei reproduzir até hoje os gritinhos. Mais ou menos assim. "Ó, ó, ó".
A Camila deu duas ou três bicadas. Obviamente, não encontrou o que, por instinto, buscava. Me assustei de encantamento e caí na gargalhada. Até hoje brinco com ela sobre isso.
Agora, 13 anos depois, mais maduro e vendo minha filha grande, me comovo quando penso naquele dia. É como se lembrasse de uma homenagem, de um presente lindo, de um poema. O meu Dia das Mães foi só um: 31 de outubro de 2002.Foi naquela manhã quente de primavera que cheguei perto de entender a magia e a força da maternidade. Foi só por um segundo. Quem vive isso todos os dias merece hoje, e para sempre, parabéns.