O acesso a milhões de artigos publicados em prestigiadas revistas acadêmicas internacionais tem um preço alto, em dólar, com o qual um estudante de pós-graduação, em geral, não consegue arcar, especialmente porque precisará consultar dezenas deles. Durante a escrita de uma tese de doutorado, nos últimos anos, dependi da bondade de estranhos, como diria Blanche DuBois, a personagem da peça Um Bonde Chamado Desejo: contatei os autores e perguntei se podiam me enviar diretamente o artigo em formato eletrônico. Todos – uns quatro ou cinco – toparam de muito bom grado. Entenderam a situação e expressaram felicidade por ter seu trabalho citado. O editor de um periódico chegou a me enviar, por e-mail, uma edição inteira que tratava do tema de minha pesquisa.
Depois, descobri que a bondade tem a ver com um embate que pesquisadores e universidades estão travando com os grandes publishers de periódicos acadêmicos pela diminuição ou isenção do custo de acesso ao conhecimento. Donas de prestigiadas revistas, as editoras, muitas vezes, cobram dos autores para terem seus artigos publicados e depois oneram as bibliotecas das universidades ao vender o acesso às publicações – muitas delas assinadas por seus próprios acadêmicos. Até Harvard chiou. Na contramão da tecnologia de publicação, que ficou muito mais barata com o formato digital, estas revistas têm custado cada vez mais caro a seu público.
O assunto voltou à baila nos últimos dias, quando houve um interesse renovado no site Sci-Hub, que disponibiliza gratuitamente milhões de artigos destes publishers. É um site ilegal, claro, como o Pirate Bay, e por isso não é a resposta definitiva ao problema do custo de acesso ao conhecimento. Mas faz parte de um movimento em direção a novos modelos de viabilização de publicações acadêmicas. Algumas universidades estão barganhando melhores preços e alguns autores estão boicotando as grandes editoras acadêmicas, preferindo publicar seus artigos em plataformas de acesso livre.
Toda essa polêmica não diz respeito exclusivamente à reduzida população do universo da pós-graduação, mas à sociedade em geral: encontrando um modelo legal e financeiramente viável de publicação, qualquer pessoa passa a ter a possibilidade de ler, por exemplo, um artigo sobre um importante avanço na pesquisa sobre câncer – ou literatura, botânica, políticas públicas. No Brasil, onde a maioria dos periódicos acadêmicos é de acesso gratuito (o que faz sentido, já que boa parte das pesquisas é financiada com dinheiro público), o próximo desafio é tornar esse conhecimento mais popular, com plataformas que garimpem o melhor dessa produção e traduzam o jargão acadêmico em uma linguagem acessível aos leitores não especializados.
*O colunista Tulio Milman está em férias.