Christian Bale, 50 anos, é um ator acostumado a transformações corporais. É uma sanfona: ora perde muito peso, ora ganha muito peso (veja galeria logo abaixo). Pode aparecer todo musculoso, como em Psicopata Americano (2000) ou na trilogia do Batman (2005-2012), ou com 66 quilos distribuídos em 1m83cm de altura, caso de O Vencedor (2010), que rendeu um Oscar de coadjuvante. Para seu personagem em A Trapaça (2013), pelo qual foi indicado pela Academia de Hollywood ao prêmio de melhor ator, chegou aos 103 quilos. Concorreu de novo na mesma categoria no papel de Dick Cheney em Vice (2018), depois de engordar 18 quilos, raspar o cabelo e branquear as sobrancelhas. Comeu donuts, hambúrgueres e tortas à vontade e chegou a realizar uma série de exercícios para engrossar o seu pescoço, de modo a ficar mais parecido com o ex-vice-presidente dos EUA.
Mas nada se compara ao que Christian Bale operou em O Operário (The Machinist), filme que completa 20 anos de sua estreia comercial no dia 3 de dezembro e que, atualmente, pode ser visto nas plataformas de aluguel digital: Amazon Prime Video, Apple TV, Google Play e YouTube.
Ao longo de quatro meses, o ator britânico empreendeu uma dieta rigorosa. Emagreceu 29 quilos, ficando com 54. Boatos dizem que ele queria baixar até os 45, mas os produtores o proibiram, para preservar sua saúde.
Na abertura do filme dirigido por Brad Anderson, de Próxima Parada: Wonderland (1998) e Fratura (2019), Bale surge cadavérico, com o rosto todo machucado, mancando e carregando o que parece ser o corpo de uma pessoa enrolado em um tapete. Quando o personagem é interpelado por um homem com uma lanterna ("Quem é você?"), a narrativa volta uns dias no tempo.
Aquele cara que, se fosse mais magro, não existiria, como dizem a prostituta Stevie (interpretada por Jennifer Jason Leigh) e a garçonete Maria (Aitana Sanchez-Gijon), é Trevor Reznik, funcionário de uma opressiva fábrica em uma cidade qualquer e anacrônica.
Reznik não dorme há um ano e mal come. Seu visual lembra o de um prisioneiro de campo de concentração, e de certo modo ele é um prisioneiro.
Obviamente, isso se reflete no seu comportamento: esquece de pagar as contas, fica desatento no trabalho e logo se vê como vítima de uma conspiração. Na tentativa de desvendar esse mistério, o próprio Reznik vai responder às perguntas do espectador: por que a insônia? Quem é o homem com a mão deformada com quem ele se encontra? Qual o nome correto no papel com o jogo da forca colado em sua geladeira?
Com desenvolvimento oblíquo à la David Lynch, música que remete aos filmes B dos anos 1950 e fotografia que parece sem cor, O Operário é eficiente na arquitetura de um clima. Talvez aos olhos de hoje provoque uma sensação de déjà vu no público acostumado a thrillers psicológicos com plot twists. Mas vale, no mínimo, para testemunhar a apavorante transformação física de Christian Bale.
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