O Clube de Cinema de Porto Alegre (CCPA), em parceria com a Sala Redenção da UFRGS e o Instituto Cervantes de Porto Alegre, realiza neste sábado (5), às 10h15min, uma sessão gratuita do filme O Espírito da Colmeia (El Espíritu de la Colmena, 1973).
Dirigido por Víctor Erice, o título é considerado uma obra-prima do cinema espanhol. A trama está ambientada em terras rurais da Espanha da década de 1940. Interpretadas respectivamente por Ana Torrent e Isabel Tellería, as duas pequenas irmãs Ana e Isabel, após assistirem ao filme Frankenstein (1931), ficam obcecadas pelo estranho personagem e tentam encontrá-lo.
Produzido quando a Espanha ainda estava sob a ditadura de Francisco Franco, que durou mais de 35 anos, O Espírito da Colmeia faz uma referência não explícita às condições do país logo após a Guerra Civil (1936-1939). Quando o filme saiu em DVD no Brasil, em 2010, o crítico Luiz Zanin Oricchio lembrou que Erice, hoje com 84 anos, "é homem de poucos filmes. Poderia ter feito apenas um, O Espírito da Colmeia, para entrar na história do cinema".
Esse foi seu primeiro longa-metragem solo. Depois, levaria uma década para assinar outro, O Sul (1983), e quase mais 10 anos para lançar o Sol de Marmelo (1992). De lá para cá, realizou alguns curtas, segmentos de obras de coletivas e um documentário, em 2007, sobre sua correspondência com o cineasta iraniano Abbas Kiarostami (1940-2016). Só voltou a dirigir um longa de ficção em Cerrar los Ojos (2023).
Sobre O Espírito da Colmeia, Zanin escreveu: "Tudo é metafórico e alusivo nesse filme de ritmo pensativo e luz esplendorosa. E tudo passa, desde o início, a ser narrado pelo ponto de vista do olhar negro e profundo de Ana Torrent. As duas meninas se entregam a pequenas brincadeiras e dão sustos uma na outra. Obviamente, como todos sabem, quando crianças fingem um medo de mentira é porque precisam controlar, psiquicamente, um medo que de fato existe. Esse medo está em toda parte, na vastidão do campo nu, no vento que sacode as árvores, na luz que bate no vidro da janela, com seus gomos em forma de alvéolos, no trem que passa pelos trilhos e se afasta do vilarejo. Nos cogumelos venenosos, que o pai ensina a distinguir daqueles que são bons para comer. Em certo sentido, O Espírito da Colmeia é um tratado sobre o medo. A casa grande é uma colmeia, a Espanha toda é uma colmeia, disciplinada, hierarquizada, com papeis bem definidos de forma rígida. Ai de quem não se adequar a eles. (...)
Tudo é mistério pois, filtrada pelo olhar infantil, a realidade se mostra um tanto mágica, como imersa nas brumas de um sonho, talvez de um pesadelo do qual não se consegue despertar. Não, esse pesadelo não é construído em tons escuros, segundo o clichê clássico. É um pesadelo solar, iluminado pela luz do campo espanhol, essa luz que os pintores buscavam captar em suas telas e que está reproduzida na fotografia magnífica deste filme intrigante. Sempre podemos decifrá-lo e ainda assim ele nos reservará alguns segredos. Depois de vê-lo, ficamos com muitas imagens na cabeça. A mais permanente: os olhos negros de Ana Torrent. Insondáveis".
A Sala Redenção fica no Campus Central da UFRGS. A sessão é aberta ao público e terá apresentação de Vicente Renner, associado do Clube de Cinema. Também haverá distribuição gratuita do número 2 do ZineClube, que, nesta edição, tem como tema o som no cinema.