Um dos destaques da 13ª edição do Festival Varilux de Cinema Francês, realizado entre junho e julho, Golias (Goliath, 2022) entra em cartaz nesta quinta-feira (8) na Sala Eduardo Hirtz, em Porto Alegre, na sessão das 14h45min. O filme do diretor Frédéric Tellier intercala e entrelaça os rumos de três personagens.
France (Emmanuelle Bercot) é uma professora de educação física durante o dia, mantém outro emprego à noite e é uma ativista contra o uso de agrotóxicos, que fizeram adoecer seu marido e pai de sua filha. Patrick Fameau (Gilles Lellouche) é um solitário advogado parisiense que se tornou especialista em direito ambiental. Mathias (Pierre Niney) é um brilhante lobista que trabalha em prol dos interesses dos produtores de diesel e da indústria agroquímica.
Golias retrata um debate cada vez mais quente, o dos agrotóxicos, defendidos por uns em nome da produtividade e da rentabilidade, condenados por outros por causa dos riscos à saúde e ao ambiente. Com paciência, o filme vai construindo uma atmosfera sufocante, marcada pelas imagens contrastantes da elite e da classe trabalhadora e por alguns acontecimentos inesperados, ainda que o quadro geral seja claro. Vale destacar as atuações do trio principal, sobretudo a de Niney (vencedor do César de melhor ator por Yves Saint-Laurent). É impressionante como seu personagem consegue dobrar verdades sem sequer piscar.
Na época do Festival Varilux, Gilles Lellouche veio ao Brasil para divulgar os três longas-metragens de que participava — os outros dois eram O Destino de Haffmann e Kompromat. Sobre Golias, perguntei ao ator se ele acreditava que, na vida real, idealistas como o advogado Patrick Fameau têm chance contra as grandes empresas que, como mostra o filme, mantêm relações próximas com governantes e políticos.
— Não sou um ator político, não falo sobre política em entrevistas — disse Lellouche. — A minha forma de me posicionar e de trabalhar essas questões é pelos filmes. O curioso no caso de Golias é que inicialmente eu estava escalado para interpretar o papel do lobista, mas daí eu disse ao diretor que tinha acabado de encarnar um colaboracionista (em O Destino de Haffmann), não queria fazer outro filho da puta. Então, fiquei com o personagem do advogado. Eu adoro os utopistas. Espero que na vida real haja pessoas como o Fameau, que combate gente 10 vezes maior do que ele. Eu acho que estamos vivendo um período de grande descrença na política. Os índices de abstenção nas eleições são altos, os jovens não estão mais votando por entenderem que a política tradicional não serve para nada, o voto deles não encontra eco, as instituições parecem inamovíveis e intocáveis. Assim, este é o momento propício para ideias utópicas. Precisamos de luzes na Europa, precisamos acreditar em alguma coisa. A mudança não vai passar pelo lado financeiro nem pelo lado político, mas pelo lado humano. Temos de nos reescutar, as pessoas não se escutam mais. Há uma crise de fé e de esperança. Mas sou um otimista.