Aos poucos, os cinco indicados ao Oscar de melhor documentário estão chegando ao Brasil. Ascensão (Ascension), de Jessica Kingdon, estreou há alguns dias na plataforma Paramount+, assim como já está disponível para compra ou aluguel, em Apple TV, Google Play, YouTube e Vivo Play, Escrevendo com Fogo (Writing with Fire), filme de Sushmit Ghosh e Rintu Thomas sobre a Khabar Lahariya, a única agência de notícias na Índia comandada por mulheres Dalit — tão marginalizadas que sequer são consideradas uma casta.
Attica, de Stanley Nelson e Traci A. Curry, reconstitui a rebelião de 1971 em um presídio do Estado de Nova York. Também deve entrar em breve no catálogo do Paramount+. Summer of Soul (...Ou Quando a Revolução Não Pôde Ser Televisionada), de Ahmir "Questlove" Thompson, ficou dois meses em exibição no Telecine e pode voltar a cartaz, agora no Star+. O filme resgata o Harlem Festival, que durante seis finais de semana seguidos de 1969 reuniu em um parque de Nova York alguns dos maiores nomes da música negra estadunidense e da luta contra o racismo, como Stevie Wonder, Sly & The Family Stone e Nina Simone.
O único filme que segue sem previsão de estreia é Fuga (Flee no título em inglês, Flugt no original, em dinamarquês), que conquistou uma inédita tripla indicação: melhor documentário, melhor animação e melhor longa internacional. O diretor Jonas Poher Rasmussen conta a história de Amin Nawabi, refugiado afegão que, prestes a se casar com seu companheiro, compartilha pela primeira vez os dramas de seu passado.
Ascensão é o primeiro longa-metragem assinado por Kingdon, diretora e produtora estadunidense de mãe chinesa. Trata-se de um documentário observacional e impressionista — não há entrevistas nem narrações.
"A intenção é realmente criar um espaço para que a audiência experimente as imagens e sons sem fazer julgamentos, ao invés de tentar explicar e categorizar", disse à agência Reuters a cineasta, indicada aos prêmios da Associação dos Produtores dos EUA e do Sindicato dos Diretores dos EUA.
Kingdon viajou por 51 locações na China para filmar cenas cotidianas, estruturadas em três temas: trabalho, consumismo e lazer. Em uma jornada visual fascinante, o filme demonstra o progresso econômico e a divisão de classes cada vez maior. Começa com as hordas de trabalhadores buscando empregos de baixa remuneração. Depois veremos, entre outros cenários, a linha de montagem de bonecas sexuais de última geração, um curso de boas maneiras nos negócios, escolas de guarda-costas e de mordomos (treinados para aguentar o abuso psicológico dos patrões) e um imenso e lotadíssimo parque aquático — tanto o símbolo de um prazer hedonista impensável para os chineses décadas atrás quanto um contraste eloquente com as primeiras cenas do documentário. A ascensão de uns passa pela pobreza de outros.