Às vésperas do Halloween, o Dia das Bruxas, neste domingo (31), o negócio é escolher um filme de terror capaz de provocar um sentimento que, no fundo, é muito útil: o medo.
— O medo organiza a angústia. A angústia é muito pior do que o medo, porque é difusa, não tem um objeto. Quando se direciona a angústia para o medo, tem-se um objeto para esse sentimento — explicou certa vez o psicanalista Mário Corso.
A lista abaixo traz alguns dos títulos que mais me assustaram, mais me perturbaram, mais me fizeram pensar em dormir com uma luz acesa. Há filmes que investem no sobrenatural, outros, na violência urbana. A casa mal-assombrada é um endereço bastante frequentado. Faz sentido: esse subgênero nos amedronta porque ataca os personagens (e, por consequência, os espectadores) onde mais deveríamos nos sentir seguros. Da mesma forma, são recorrentes no elenco as crianças e os adolescentes. As primeiras normalmente são associadas a qualidades como alegria, pureza e inocência, mas também são capazes de apavorar, fantasiar e ver coisas que os adultos não conseguem enxergar. Os outros... Bem, por conta de sua inconsequência intrínseca e de seus hormônios ebulientes, costumam deflagrar eventos trágicos e ser vítimas em potencial de um punitivismo puritano.
Halloween (1978)
Uma lista de Halloween só poderia começar com Halloween — que, no Brasil, ganhou o subtítulo A Noite do Terror. O cineasta John Carpenter abre a contagem de mortos de um dos primeiros psicopatas assassinos que marcam o subgênero slasher — Michael Myers veio depois do Leatherface de O Massacre da Serra Elétrica e antes do Jason Voorhees de Sexta-Feira 13. Seus alvos são adolescentes como Laurie Strode (Jamie Lee Curtis). A trilha sonora que o acompanha é absolutamente aflitiva, sinistra e inesquecível. E, em que pesem o nítido aperto orçamentário e uma certa lentidão característica de sua época, o filme revela um mestre na carpintaria do suspense e do mal, construindo um clima de pavor graças a estratégias que hoje parecem simples, como o uso do ponto de vista do maníaco e o trabalho com o chamado extracampo: o medo decorre de sabermos que Michael está ali por perto, mas não temos certeza de onde efetivamente está. (Netflix)
A Hora do Pesadelo (1984)
Freddy Krueger, um dos mais emblemáticos personagens das franquias de terror, surgiu neste filme dirigido pelo estadunidense de Wes Craven e estrelado por Johnny Depp e Heather Langenkamp. Fruto do estupro coletivo de uma freira em um velho manicômio da Rua Elm, Freddy começou a carreira invadindo os sonhos de adolescentes para matá-los. Apareceu em nove filmes, incluindo um duelo contra Jason, de Sexta-Feira 13, e em quase todos foi encarnado por Robert Englund. Craven, por sua vez, em 1996 daria início a outra cinessérie de sucesso: Pânico, que em 2022 voltará para um quinto segmento, trazendo no elenco os veteranos Neve Campbell, David Arquette e Courteney Cox. (Apple TV)
Violência Gratuita (1997)
Com o título original de Funny Games ("jogos divertidos"), não é bem um filme de terror, mas definitivamente é perturbador. A obra do polêmico Michael Haneke foi objeto de desentendimentos entre os jurados do Festival de Cannes: uns aplaudiram, outros acharam incômodo demais. Dois jovens (vividos por Arno Frisch e Frank Giering) aterrorizam uma família em sua casa de férias — marido (Ulrich Mühe), esposa (Susanne Lothar) e filho pequeno. O cineasta austríaco mostra a cumplicidade do público para com imagens de violência, tornando-nos conscientes de nossa posição como espectadores e consumidores das exibições de brutalidade e sadismo frequentemente encontradas em gêneros como o terror, o policial e o suspense. (Reserva Imovision)
Os Estranhos (2008)
Do subgênero "jovens que entram em uma roubada em uma casa de campo", este filme do estadunidense Bryan Bertino é o meu predileto. Primeiro porque não recorre ao sobrenatural: um trio de mascarados aterroriza Liv Tyler e Scott Speedman. Segundo porque não há justificativa, não é uma punição moral: o casal estava apenas no lugar errado na hora errada. E terceiro por causa da engenhosidade cênica: de modo geral, os vilões aparecem ao fundo, num cantinho da tela ou desfocados. Nós sabemos que eles estão dentro da casa, mas os protagonistas não. Somos sufocados pela expectativa. (HBO Max)
A Entidade (2012)
Neste filme assinado pelo estadunidense Scott Derrickson, Ethan Hawke encarna um escritor de livros sobre crimes reais que acaba de se mudar com a família. No sótão da nova casa, ele encontra uma caixa com filmagens antigas de mortes horripilantes e decide investigar os casos, colocando sua esposa e seus filhos em perigo. As imagens podem causar pesadelos. (Amazon Prime Video, Telecine, Google Play e YouTube)
Invocação do Mal (2013)
O ponto de partida do Invocaverso criado pelo cineasta australiano nascido na Malásia James Wan. Os oito filmes, que incluem a trilogia da boneca Annabelle, A Freira e A Maldição da Chorona, arrecadaram mais de US$ 1,9 bilhão.
Patrick Wilson e Vera Farmiga interpretam o célebre casal de investigadores paranormais Ed e Lorraine Warren. A trama se passa em 1971, quando os Warren tentam ajudar a família Perron — pai, mãe e cinco filhas acabam de se mudar para uma casa no interior de Harrisville, onde as crianças logo começam a ser atormentadas por eventos sobrenaturais. É o melhor filme da franquia. Wan desenvolve bem os personagens, o que aumenta o drama e, por consequência, potencializa o suspense (pelo menos para quem não é especialista nos casos dos Warren). E, ao explorar pacienciosamente o cenário, focando em quartos, portas, janelas escadas da residência dos Perron, o diretor dá aula de construção de atmosfera e de preparação para sustos. (Telecine, Google Play e Apple TV)
Mama (2013)
Antes de lidar com os pré-adolescentes negligenciados de It: A Coisa (2017), o diretor argentino Andy Muschietti contou a história de duas menininhas órfãs. Após a morte dos pais, Victoria, então com três anos, e Lilly, um ano, ficam isoladas em uma cabana na floresta. Alguns anos depois, agora interpretadas por Megan Charpentier e Isabelle Nélisse, elas são encontradas e vão morar com seu tio (Nikolaj Coster Waldau) e a namorada dele (Jessica Chastain). Levam junto seus medos, seus traumas, suas dificuldades de aprendizagem, seus problemas de socialização e uma espécie de amiga imaginária que equilibra o terror (afinal, este é um filme de horror) com o amor. Se você nunca viu Mama, prepare-se para um dos mais arrepiantes finais do gênero. (Apple TV, Google Play e YouTube)
Boa Noite, Mamãe (2014)
Convém não contar muito sobre este filme dirigido pelos austríacos Veronika Franz e Severin Fiala. Fiquemos com a sinopse do Google: após ficar afastada alguns dias, por conta de cirurgias plásticas, a mãe de dois garotos gêmeos volta para casa. Entretanto, seus filhos não acreditam que a mulher com o rosto coberto seja realmente sua mãe. Trata-se de uma obra que, sem pressa nem pudores, vai nos asfixiando. (Apple TV)
O Homem nas Trevas (2016)
O diretor uruguaio Fede Alvarez filmou em Budapeste, na Hungria, este filme que se passa em Detroit, cidade dos Estados Unidos cada vez mais fantasmagórica diante da crise enfrentada pela indústria automobilística. Na trama, um trio de jovens ladrões (Dylan Minnette, Jane Levy e Daniel Zovatto) invade a residência de um veterano de guerra cego (Stephen Lang) para roubar o dinheiro de um processo vencido após uma tragédia familiar. Mas as coisas escapam — muito — ao controle. (Netflix, Google Play e YouTube)
Veronica (2017)
Rec (2007) gravou o nome do diretor espanhol Paco Plaza na memória dos fãs de terror. Dez anos depois, ele nos apresenta a adolescente Veronica (encarnada por Sandra Escacena), sobrecarregada de tarefas domésticas porque a mãe trabalha em um restaurante na Madri dos anos 1990. Filha mais velha, é quem de fato cuida dos três irmãos mais novos, as gêmeas Irene e Lucia e o caçula Antoñito. Aluna de uma escola católica administrada por freiras, a protagonista é leitora voraz de revistas especializadas em ocultismo. Certo dia, compra um tabuleiro ouija para tentar contatar o pai falecido. Mas o episódio acaba desencadeando uma espiral de desgraça e danação. Embora não economize em cenas assustadoras e jogue com as percepções do público — existe a ameaça sobrenatural? Ou são pesadelos? Ou Veronica está em surto psicótico? —, Plaza evita soluções fáceis e ainda consegue entabular uma dolorosa reflexão sobre a sempre complicada transição da adolescência para o mundo adulto. (Netflix, Apple TV, Google Play e YouTube)