Filmes e séries sobre presidentes dos Estados Unidos, sejam eles reais inquilinos da Casa Branca ou mandatários de mentirinha, são uma tradição americana como a torta de maçã, o beisebol e o Dia de Ação de Graças. Se eu fosse tentar fazer uma lista completa, levaria mais tempo do que a apuração dos votos na disputa entre o republicano Donald Trump e o democrata Joe Biden. Então, vale dizer que aqui estão apenas alguns eleitos, divididos em quatro categorias: cinebiografias, documentários, ficções e séries.
Cinebiografias
Dos 45 homens que já ocuparam a Casa Branca desde que George Washington, em 1789, deu início a seu primeiro mandato, dois são figuras recorrentes no cinema. O popular John F. Kennedy (1917-1963) foi vivido por Bruce Greenwood em Treze Dias que Abalaram o Mundo (2000), de Roger Donaldson, ambientado em um dos momentos mais tensos da Presidência: 1962, quando os EUA e a antiga União Soviética estiveram à beira de um conflito nuclear. O assassinato de Kennedy, em novembro de 1963, foi tema, por exemplo, de JFK: A Pergunta que Não Quer Calar (1991), dirigido por Oliver Stone e estrelado por Kevin Costner — interpretando o promotor Jim Garrison —, vencedor dos Oscar de fotografia e edição e indicado aos prêmios de melhor filme, diretor, ator coadjuvante (Tommy Lee Jones), roteiro adaptado, música original e som, e de JFK: A História Não Contada (2013), de Peter Landesman, que traz no elenco Zac Efron e Paul Giamatti (como Abraham Zapruder, o dono de uma loja de roupas femininas que, fortuitamente, filmou o instante em que o presidente foi baleado). Os quatro dias seguintes ao ataque são reencenados em Jackie (2016), de Pablo Larraín, centrado na primeira-dama e agora viúva (Natalie Portman, indicada ao Oscar de melhor atriz).
A outra figurinha carimbada é o controverso Richard Nixon (1913-1994), que não chega a aparecer, mas exerce sua enorme sombra no recente Os 7 de Chicago (2020), de Aaron Sorkin. Em "carne e osso", o mandatário que acabou renunciando em 1974, após o escândalo Watergate (esmiuçado no clássico Todos os Homens do Presidente, lançado por Alan J. Pakula em 1976), pode ser visto em pelo menos cinco títulos. Em 1984, Robert Altman dirigiu Philip Baker Hall em A Honra Secreta. Nixon (1995), de Oliver Stone, rendeu a Anthony Hopkins uma indicação ao Oscar de melhor ator, mesma categoria pela qual Frank Langella, no mesmo papel, concorreu por Frost/Nixon (2008), adaptação de Ron Howard para uma célebre entrevista concedida três anos após a renúncia. Dan Hedaya encarna Dick — o apelido de Nixon — na paródia sobre Watergate Todas as Garotas do Presidente (1999), de Andrew Fleming, e Kevin Spacey contracena com Michael Shannon em Elvis & Nixon (2016), de Liza Johnson, sobre uma visita do Rei do Rock à Casa Branca, em 1970.
Entre as demais cinebiografias, vale destacar a terceira assinada por Oliver Stone, W. (2008), sobre George W. Bush (interpretado por Josh Brolin); Lincoln (2012), de Steven Spielberg, premiado com o Oscar de melhor ator (Daniel Day-Lewis); e Barry (2016), de Vikram Gandhi, sobre a vida de Barack Obama (Devon Terrell) na universidade, no começo da década de 1980. Outros dois títulos merecem nota. Segredos do Poder (1998), de Mike Nichols, é uma espécie de reconstituição disfarçada da primeira campanha de Bill Clinton à Presidência — no filme, John Travolta encarna um carismático governador do Sul chamado Jack Stanton, e Emma Thompson faz sua esposa, à la Hillary. Vice (2018), de Adam McKay, traz Christian Bale no papel de Dick Cheney, o segundo em comando na administração de George W. Bush.
Documentário
Seria insano tentar mapear todas as produções, portanto, vou citar apenas o terceiro documentário de maior bilheteria na história: Fahrenheit 11 de Setembro (2004), com US$ 221 milhões arrecadados, atrás de Michael Jackson: This Is It (2009), com US$ 252 milhões, e Grand Canyon: The Hidden Secrets (1984), com US$ 239 milhões. No filme vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes, o diretor Michael Moore ataca o presidente George W. Bush. Faz revelações e provocações sobre a reação do governo americano aos atentados de 11 de setembro de 2001, incluindo a omissão da Casa Branca a um relatório que alertava sobre um iminente ataque terrorista e a conexão da família Bush como sauditas como Osama Bin Laden, então o líder da Al-Qaeda.
Ficções
Ameaças atômicas, terroristas ou mesmo alienígenas e vampiros são a pauta do dia dos presidentes ficcionais. No clássico Dr. Fantástico (1964), o cineasta Stanley Kubrick explorou a paranoia nuclear da Guerra Fria mostrando Peter Sellers como o presidente ianque Merkin Muffley — um dos três papéis interpretados pelo lendário ator cômico no filme.
Harrison Ford sai no braço com os terroristas que sequestram o avião presidencial em Força Aérea Um (1997), de Wolfgang Petersen, e o thriller A Conspiração (2000), de Rod Lurie, coloca o mandatário (Jeff Bridges) no centro de intrigas palacianas.
Jack Nicholson, em Marte Ataca! (1996), de Tim Burton, e Bill Pullman, em Independence Day (1996), de Roland Emmerich, têm como inimigo externo seres de outro planeta que querem destruir o mundo. Até com vampiros os presidentes têm de lidar. É o caso de Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros (2012), de Timur Bekmambetov.
Mas também há vez para o amor e para a comédia. Meu Querido Presidente (1995), de Rob Reiner, trata de um chefe de Estado (Michael Douglas) que se apaixona por uma lobista (Annette Bening). Dave: Presidente por um Dia (1993), de Ivan Reitman, é sobre um sósia (Kevin Kline) que assume o lugar do poderoso. Mera Coincidência (1997), dirigido por Barry Levinson e estrelado por Robert de Niro e Dustin Hoffmann, é uma sátira meio premonitória: lançado um mês antes de estourar o caso Monica Lewinsky (a estagiária que se envolveu com Bill Clinton) e dos subsequentes bombardeios do Afeganistão e do Sudão pelo governo dos EUA, conta uma uma história sobre um assessor presidencial, um consultor político e um produtor de cinema que fabricam uma guerra fictícia na Albânia para desviar a atenção da imprensa e do público de um escândalo sexual protagonizado pelo presidente em plena Casa Branca.
Séries
Os seriados são terreno fértil para presidentes icônicos. O primeiro deles talvez seja o democrata Josiah Bartlett, interpretado por Martin Sheen em The West Wing (1999-2006). Criada por Aaron Sorkin, a série foi palco de debates intensos sobre os destinos do mundo e desafios internos.
Um pouco depois, surgiu o David Palmer encarnado por Dennis Haysbert na eletrizante 24 Horas (2001-2010), que pode ter contribuído para fixar no imaginário dos americanos a ideia de eleger, em novembro de 2008, o primeiro presidente negro, Barack Obama — democrata como o mandatário do seriado.
Falando em primeira vez, na ficção, ao contrário da realidade, já houve uma mulher na Casa Branca. Na verdade, pelo menos quatro: Mackenzie Allen, papel de Geena Davis em Commander in Chief (2005-2006); Allison Taylor (Cherry Jones) no telefilme 24 Horas: A Redenção (2008) e nas temporadas 7 e 8; Selina Meyer, que começou como vice-presidente na comédia Veep (2012-2019) e valeu seis prêmios Emmy de melhor atriz para Julia Louis-Dreyfus (a Elaine de Seinfeld); e Claire Underwood (Robin Wright) em House of Cards (2013-2018).
Também já houve uma personagem de desenho animado, a Lisa, de Os Simpsons. Foi por apenas um episódio, Bart to the Future, em 2000, mas tornou-se marcante por antever que um dia Donald Trump assumiria a presidência.
Falando em Trump, antes de virar presidente (portanto, as atrações a seguir não entram no cálculo dos 35 do título da coluna, caso você esteja contando) o megaempresário apareceu várias vezes na TV, seja no comando de seu reality show, O Aprendiz, surgido em 2004, seja fazendo participações especiais em seriados como All my Children, Um Maluco no Pedaço, The Nanny, Spin City e Sex and the City.
Por fim, não podemos esquecer do maquiavélico e amoral Frank Underwood, personagem de Kevin Spacey em House of Cards, nem do Tom Kirkman de Designated Survivor (2016-2018): Kiefer Sutherland, que sempre defendeu o presidente como o Jack Bauer de 24 Horas, agora se vê, inesperadamente, tendo de assumir o cargo, depois que uma explosão mata o mandatário e todos os integrantes do gabinete, exceto ele, secretário de Habitação e Desenvolvimento Urbano.