Depois que Jordan Chiles, dos Estados Unidos, terminou sua apresentação, a euforia tomou conta do ginásio e um pódio com uma brasileira, uma norte-americana e uma romena foi formado.
Alguns minutos depois, com as três atletas comemorando com suas bandeiras no solo, porém, de repente, uma mudança na nota de Chiles, depois dos EUA entrar com um recurso, a posicionou em terceiro lugar, alterando o pódio que gerou a foto icônica de Rebeca no centro e as duas ginastas americanas a reverenciando.
Algumas horas depois, o comitê olímpico romeno emitiu uma nota pedindo providências a Federação Internacional de Ginástica (FIG), e até Nadia Comaneci, que é romena, se envolveu em defesa da compatriota — Sabrina Maneca Voinea — com um vídeo questionando uma punição marcada injustamente para a atleta que lhe garantiria a medalha de bronze.
O caso tomou uma proporção tão grande que o primeiro-ministro da Romênia, Marcel Ciolacu, não irá ao encerramento da Olimpíada em forma de protesto.
Para quem assiste aos Jogos Olímpicos como entretenimento, é muito bonito. Vemos os super-humanos fazendo coisas inacreditáveis e ficamos torcendo cada um para sua própria nação, mas, como internacionalista, devo dizer que as Olimpíadas nada mais são do que um retrato do mundo e da relação de poder entre países. É muito sobre política e relações internacionais nos bastidores.
Países querem afirmar sua hegemonia e status através do esporte. Por isso que, em diversos momentos, vimos decisões controversas de juízes e árbitros. Existe, mesmo que inconscientemente, uma tendência a decisões favoráveis para os países do norte global.
Além disso, medalhas nas Olimpíadas são muito importantes. Não só para afirmar a posição do país em um mundo globalizado, mas principalmente para justificar os investimentos feitos no esporte durante aquele ciclo.
Imagina se o Brasil voltasse dessa olimpíada com 10 ouros em 10 esportes diferentes, o investimento nessas modalidades no próximo ciclo seria exorbitante e importantíssimo para o desenvolvimento deles.
Nesse caso da Romênia, a ginástica é um dos principais esportes e motivo de orgulho para uma população inteira. Essas medalhas valem muito para eles.
Não é à toa que vemos sempre Estados Unidos, China e Rússia (nessa edição impossibilitada de participar) no topo do quadro geral de medalhas. São três das principais potências econômicas do mundo.
Uma audiência no tribunal arbitral do esporte foi marcada para esta sexta-feira (9), que dará desfecho ao caso da ginasta romena. Mas é pouco provável que retirem a medalha da ginasta americana. Há mais chance de entregarem outra premiação e manter a de bronze já entregue.