Se soar repetitivo, peço perdão aos leitores.
É que depois de minha última imersão ao Vêneto, região de onde partiram muitos imigrantes italianos rumo ao sul do Brasil, no século 19, fiquei com muita vontade de (re)contar e mostrar o que vi por lá.
A seguir, breves descrições de pequenas cidades e localidades nas províncias de Belluno e Treviso (em ordem alfabética, para facilitar), muito próximas umas das outras e percorridas por razões particulares.
Cibiana di Cadore
Dediquei uma página, já, aos murais desta cidade de 450 habitantes que fica a quase 1000 metros de altitude, nas Dolomitas, a cadeia de montanhas da região. As casas construídas a partir do século 16 ganharam murais em suas paredes externas desde os anos 1980, mas só a paisagem já bastaria para conhecer Cibiana. A poucos quilômetros, no Passo Cibiana, fica o Museu das Nuvens.
Cison di Valmarino
Integra a Estrada do Prosecco, rota da famosa bebida, e tem como destaque o Castelo Brandolini, construção do século 10 no alto de uma colina que hoje abriga um hotel e foi renomeada como Castelbrando — visto ao entardecer, todo iluminado, parece uma pintura. Outra atração local (minha passagem foi rápida, sem paradas) é a Via dos Moinhos, pelos quais Cison também era conhecida.
Feltre
Como as escavações sob a praça do Duomo, que tem 900 metros quadrados de vestígios do período romano (dos séculos 2 a 4 d.C), permanecem fechadas até setembro de 2023, a sugestão é caminhar até as duas torres que dominam a cidade: a do Relógio, o antigo acesso ao Castelo de Fletre, dos anos 1300, e a do Sino, com 34 metros de altura, de onde se pode ter vistas lindas de Feltre e do vale no entorno.
Lentiai
Na margem esquerda do Rio Piave, tem na igreja de Santa Maria Assunta seu principal marco — o templo do século 16 é monumento nacional desde 1880 e sua torre pode ser vista à distância, emoldurada pelos pré-Alpes Belluneses. Mas é nas áreas rurais que ficam as principais atrações, com campos, bosques e trilhas ciclísticas. Na primavera, narcisos recobrem o topo das montanhas.
Mel
Não é por acaso que em 2019 a cidade que hoje é sede de Borgo Valbelluna, após se unir a outras duas vizinhas (Tricchiana e Lentiai), venceu o concurso Borgo dei Borghi (os vilarejos mais bonitos da Itália), promovido pela emissora de TV Rai. No alto de uma colina, ela tem no seu centro histórico, principalmente em torno da Praça Papa Luciani, um conjunto de diversas épocas, mas harmonioso.
Miane
Os guias recomendam visitas ao Santuário de Nossa Senhora del Carmine, consagrado em 1824, e à Strada della Fan (a "estrada da fome"), construída na Primeira Guerra Mundial por mulheres, crianças e idosos, mas meu objetivo em Miane era o Ristorante Da Giggeto, aberto no início do século 20, que tem uma das cantinas mais bonitas da Itália, com 1.600 rótulos guardados nos túneis subterrâneos.
Pedavena
A parada foi na Birreria Pedavena, conhecida como a maior cervejaria da Itália. Desde 1897, quando surgiu embalada pela qualidade das águas locais, passou por duas grandes ampliações: em 1937, quando ganhou salas para receber turistas, recobertas de afrescos, e em 1998, atualizada para receber os visitantes com restaurante, sala de eventos, parque e museu.
Seren del Grappa
De novo, o ponto de interesse era gastronômico na cidade que oferece também belos passeios junto à natureza: o Al Cacciatore, restaurante e pousada com seis quartos. Na área do restaurante, cada pequeno espaço é temático, lembrando as peças de uma casa (fiquei na sala de costura e lembrei do restaurante Dona Olga, em Monte Belo do Sul, com proposta semelhante). Comida deliciosa.
Tremea
Se você bater meu sobrenome com o nome do lugar não será preciso explicar o motivo de eu ter ido até essa pequeníssima localidade, com uns 70 habitantes e mais de 500 anos de história. Fora as construções e a paisagem, não há interesse turístico, mas a sete quilômetros fica o Castello di Zumelle, fortificação com torre de 36 metros de altura, aberta para visitas, hospedagem, casamentos...
Valdobbiadene
Marca o início da Estrada do Prosecco, rota de 45 quilômetros entre parreirais e vinícolas. A praça Guglielmo Marconi, onde fica uma de suas principais atrações, o Duomo de Santa Maria Assunta, foi toda remodelada há poucos anos, não sem algumas críticas, mas é o ponto de partida para as mais belas paisagens da região e onde você pode obter boas informações, em um centro turístico moderno.
Villa di Villa
Passei de ônibus várias vezes diante da Macelleria Sperandio até parar para conhecer este açougue em frente ao qual há uma placa indicando o local declarado de interesse histórico em 2015. O negócio nasceu em 1900, funciona de forma ininterrupta desde então e já está na quinta geração da família. Difícil é conversar com o proprietário e seu filho, que atendem no balcão, pois a fila não para.