A psicóloga Helena Beatriz Juenemann não é do tipo de viajante que coloca alfinetes no mapa-múndi contabilizando os países percorridos. Teve de contá-los forçada por terceiros: cerca de 45 em cinco continentes. E o que ela quer ao lançar o livro de crônicas Viagens à Luz do Divã não é enumerar as experiências vividas nessas jornadas, mas ressignificá-las, refletir e provocar reflexões.
Com lançamento na Feira do Livro de Porto Alegre, a obra é a terceira de Beatriz, que já publicou dois livros de poemas. Viagens à Luz do Divã reúne 25 crônicas biográficas em ordem cronológica e duas poesias. Aos 69 anos, graduada também em Relações Públicas, ela atuou nessa área por 30 anos na prefeitura da Capital, mas há uma década completou a formação em Psicologia - sua paixão ao lado do turismo.
O livro começa com a mais longa de suas incursões: um período de dois anos de estudos na Itália no final dos anos 1970, com a irmã, sob o olhar rigoroso de um tio diplomata. Ainda que tivesse casa e comida e o privilégio de frequentar eventos e cursos, enquanto esperava o início das aulas na faculdade, não foram poucas as vezes em que chorou e teve vontade de voltar para casa. Faltavam, principalmente, os laços com os amigos, que ela teve de aprender a refazer no país distante. Mas sobravam experiências, como uma improvável audiência privada com o papa Paulo VI (1963-1978), poucos meses antes de sua morte. O clima de tensão criado pelo tio - recomendando que o protocolo fosse seguido à risca, adicionado à solenidade de vestir preto dos pés à cabeça - foi amenizado por ninguém menos do que o próprio Pontífice, que sugeriu que ela e a irmã "percorressem o mundo para ver as belezas do Criador" e, ainda que alquebrado, levantou-se para tirar uma foto com as gurias de Porto Alegre.
As palavras de Paulo VI ecoam até hoje na memória de Beatriz e é a construção dessas memórias e emoções que ela diz ser o grande efeito de uma viagem:
— É muito mais do que ir, do que ver: é vislumbrar as belezas, é superação e aprendizado. Hoje, nas redes sociais, as pessoas descrevem suas viagens e parece tudo maravilhoso, mas poucos contam os medos, as frustrações.
As crônicas de Beatriz podem ser lidas na sequência cronológica em que o livro está organizado ou de forma independente. Não há grandes aventuras e peripécias, mas singelezas e passagens bem-humoradas, como a ida ao aeroporto de Buenos Aires um dia antes do retorno da lua de mel ou a vez em que ela e o marido, na Itália, viram o motorista de ônibus parar o veículo em uma sorveteria, descer, comprar uma casquinha, voltar, entregar o volante ao cobrador enquanto se deliciava com o sorvete e, por último, desviar o trajeto para deixar o casal na estação de trem, já que eram os únicos ocupantes.
Bom humor, aliás, ela considera uma condição essencial aos viajantes, pois uma viagem é sempre "um tiro no escuro":
— Mesmo que se planeje tudo, tudo pode mudar. É sempre preciso dar a volta por cima. Aí entra a maturidade e a inteligência emocional. Tem de levar as coisas de um jeito mais frouxo.
Nos últimos anos, muitas das viagens de Beatriz e do marido têm sido motivadas pelos endereços da filha Anna Helena, 33 anos, que, desde 2015, após um curso na Holanda, morou também em Paris e agora se estabeleceu em Nuremberg, na Alemanha.
Mas o que deve mover alguém a viajar, na opinião de Beatriz?
— Primeiro de tudo, é o desejo. A pessoa tem de querer ir. Algumas têm vontade, mas têm medo, e é preciso superar esse medo.
E para quem sofre de "depressão pós-viagem" (numa passagem do livro, ela diz que "o retorno, na maioria das vezes, é dolorido"), a dica da psicóloga é planejar a próxima:
— Os objetivos nos movem. Na volta da viagem, é se perguntar: quando vamos de novo? É dizer: gostei muito desse lugar, mas tem outro... é isso que nos move.
Na Feira do Livro
Viagens à Luz do Divã: Crônicas de Viagem, de Helena Beatriz Juenemann (AGE Editora) terá sessão de autógrafos no dia 5/11, às 17h30min, no Pavilhão dos Autógrafos. Disponível na Barraca 27 da Feira ou no site editoraage.com.br. Você também pode seguir o perfil no Instagram @viajesemmedo
Obra de quem nos ajuda a viajar
É sugestivo o título do livro que a Associação Brasileira de Agências de Viagens do Rio Grande do Sul (ABAV-RS) lança na 67ª Feira do Livro de Porto Alegre para comemorar seus 60 anos: Turismo É com Agente traz crônicas em que os agentes de turismo são protagonistas. Idealizada pela Casamundi, a obra resultou de uma oficina ministrada por Rubem Penz. A sessão de autógrafos coletiva será no dia 11 de novembro, às 18h, no Espaço Cultural dos Correios, no Memorial do RS. Entre os cronistas/agentes de viagens, estão Rita Vasconcelos, João Augusto Machado, Abrahão Finkelstein, Lígia Ayub, Beto Conte e Lúcia Bentz. O livro também será distribuído no Festuris, de 4 a 7 de novembro, em Gramado.
Na Argentina, após a reabertura
Com fronteiras aéreas abertas para brasileiros desde 1º de outubro, mas com muitas restrições e poucos voos, a previsão é de que a partir de 1º de novembro a entrada de turistas na Argentina fique mais fácil, quando o acesso será dado a todos os estrangeiros. Então, aqui vão experiências sugeridas pelo Instituto Nacional de Promoción Turística para ainda aproveitar a primavera no país vizinho:
- Fotografar Buenos Aires tingida por jacarandás. Estima-se haver mais de 14 mil árvores da espécie na capital, incorporados à paisagem da cidade desde o final do século 19.
- Caminhar entre canteiros de tulipas em Trevelin (Chubut). Na rota 259, na Área Natural Protegida Nant, o atrativo com 2 milhões de flores abre entre outubro e novembro.
- Observar orcas, baleias, golfinhos e pinguins em Puerto Madryn (Chubut). Há diversos pontos de observação dos animais que desfilam pelas águas da região nesta época.
- Passear pelo Rosedal em Buenos Aires. O jardim de Palermo, premiado pela Federação Mundial das Sociedades de Rosas, reúne 8 mil espécimes de rosas de 93 espécies diferentes.
- Andar de caiaque nos lagos de Bariloche (Río Negro). Nahuel Huapi, Brazo Tristeza, Gutierrez, Moreno e Mascardi são alguns dos locais sugeridos para a prática do esporte.
- Tomar vinho em Mendoza após praticar esportes. A dica é praticar atividades ao ar livre como caiaque, rafting, trekking ou cavalgada e coroar o dia com uma taça de vinho da região.