Conversar sobre viagens com Isabel Bohrer, 89 anos, é uma delícia. Ler seus relatos sobre décadas de roteiros por 42 países e mais de 360 cidades, também. Há detalhes saborosos nas 240 páginas de Onde Está Isabel?, lançado no final de junho em encontro virtual com a autora. O título vem da dúvida/certeza dos amigos e da família sobre o destino de Isabel: sediada em Porto Alegre desde o nascimento, ela poderia estar em qualquer ponto do planeta — no Iêmen, no Paquistão, na África, na China, no Irã... Ela viajava e anotava. É surpreendente a quantidade de registros escritos, de imagens e de memorabilia, meticulosamente organizados, desde a primeira viagem à Europa aos 18 anos, de navio, em 1950.
Falei com Isabel numa animada conversa por vídeo, só interrompida de vez em quando pela assistente pessoal de seu Apple Watch, que procurava interferir em alguma tentativa de relembrar um local específico ou uma data longínqua. Veja um resumo da entrevista, mas, principalmente, leia o livro. Além de se alimentar das vivências e dos sonhos de Isabel ("Sonhar me fez forte", disse ela lá pelas tantas, ao relembrar a infância difícil), você também estará ajudando a Casa de Apoio Madre Ana.
Se começasse a viajar hoje, que tipo de viagem faria? Para onde seria?
— Eu viajei até os 80 anos, mas não conheci a Etiópia. Queria muito conhecer. Acho que por conta das histórias da Rainha de Sabá (a soberana, que se acredita tenha vivido no século 10 a.C., teria reinado no território que hoje compreende Etiópia e Iêmen), mas também por ser o berço do café, pelas plantações, pelas altitudes. Aos 65 anos, comprei um tour para lá, mas uns dias antes da viagem sofri um infarto. Depois, a situação política ficou complicada no país e nunca mais fui.
O que levaria na bagagem?
— Preparar a bagagem sempre foi um ritual. Começava a organizar uma semana antes a roupa e as comidas que levaria, porque tive problemas com alimentação, e levava sopas instantâneas, queijinhos, leite em pó, café solúvel. Levava, e levaria, uma mala pequena. A mala foi diminuindo ao longo do tempo. Às vezes, se a viagem fosse mais longa e fazia conexão na Europa, deixava uma mala com o que não usaria mais no hotel para pegar no retorno ou até despachava de volta para Porto Alegre. Dependia do tamanho da viagem, mas minhas viagens eram sempre de mais tempo, nunca de menos (risos). Se eu gostasse do lugar ou houvesse um concerto que queria ver, ficava mais. Sempre fiz viagens exóticas, difíceis, às vezes em lugares que nem estrada tinha e se andava de jipe pelo leito do rio, como foi no norte da China.
Uma das coisas que a senhora falou no lançamento foi "o mundo que eu vi não existe mais". O que mudou? Para melhor ou pior?
— O mundo se globalizou, difícil dizer o que está melhor ou não. Em tecnologia, melhorou muito. Mas as cidades grandes perderam suas características. As cidades pequenas mantiveram mais. Estive em Xangai pouco depois da morte de Mao Tse-tung (1976), por exemplo, e anos depois retornei, e era uma cidade muito diferente.
Qual o povo mais interessante, na sua opinião?
— Depende. Há lugares em que as pessoas são mais receptivas e em outros, menos. Acho que talvez possa citar o Irã, para onde fui em 2000 e levei inclusive a roupa que recomendavam que se usasse lá, para respeitar a cultura. Eu ia à feira, ao cinema, algo que adoro fazer em outros países, ia a todos os lugares. Fui assistir a um filme e na sala só havia mulheres e crianças e foi incrível o que fizeram para mim: o cinema estava lotado e me deram lugar, me levaram frutas, doces...
Qual cidade deixou a melhor impressão ou aquela em que gostaria de morar?
— Nunca quis morar para sempre em nenhuma cidade que visitei. Mas gostaria de ter morado um pouco em cada uma. Amo Nova York. Das primeiras vezes em que fui, havia muitos assaltos, com muita gente dormindo na rua. Íamos duas a três vezes por ano, porque meu marido ia a trabalho. Hoje está bem melhor. Das cidades pequenas, gosto das do interior da Alemanha, com seus hoteizinhos aconchegantes e lagos.
O livro
Onde Está Isabel?
De Isabel Bohrer. Editora Libretos, 240 páginas, 320 fotografias, com apresentação de Cláudia Laitano e ensaio fotográfico de Marco Nedeff.
Pode ser adquirido no site libretos.com.br, pelos telefones (51) 99355-4456, 99388-0224 ou na PocketStore (Félix da Cunha, 1.167). A renda é revertida à Casa de Apoio Madre Ana, da Santa Casa de Porto Alegre, que acolhe pacientes em tratamento médico e seus familiares.
Passeando com os vídeos do Beto
A diversidade regional da França é o tema dos encontros virtuais da série Beto no Mundo em julho, para celebrar os ideais da Revolução Francesa, em parceria de Beto Conte, da Trip & Travel, com o Instituto Roche. Desde o início da pandemia, Beto apresenta os circuitos conhecidos como Grand Tours. Da série especial sobre a França, já foram apresentados Provence (21/6), Normandia, Bretanha e Vale do Loire (5/7) e, na sequência, virão: Borgonha, Alsácia e Champagne, circuito pelo mundo dos vinhos (12/7, às 19h) e Córsega, terra de Napoleão Bonaparte (19/7, também às 19h).
Inscrições gratuitas no triptravel.com.br/eventos. O site reúne a gravação dos episódios anteriores.
Esperando o Trem dos Vales
Roteiro que começou como uma experiência em 2019 e seguiu em alguns períodos de 2020, com mais de 13 mil turistas transportados (entre Muçum e Guaporé, pela Ferrovia do Trigo, e entre Colinas e Roca Sales, pela Ferrovia Tronco Principal Sul), o Trem dos Vales anunciou seu projeto para 2021/2022: de novembro a janeiro, estão programados novos passeios pela Ferrovia do Trigo (saídas de Guaporé, às 9h, e de Muçum, às 14h).
Novembro: dias 6, 7, 13, 14, 15, 19, 20, 21, 27 e 28
Dezembro: dias 4, 5, 11, 12, 17, 18, 19, 22, 26, 28, 29 e 30
Janeiro/2022: dias 2, 7, 8 e 9
A venda dos bilhetes começou no dia 2/7 e irá até 23/8 apenas para agências de turismo no site tremdosvales.com.br. A venda para pessoas físicas será a partir de 24 de agosto. O valor do bilhete é de R$ 139.