Balneário uruguaio repetidamente comparado à espanhola Ibiza, Punta del Este é velha conhecida dos gaúchos, quase um segundo lar para muitos que a frequentam como se estivessem se deslocando para o litoral do Estado. De carro, são pouco mais de 700 quilômetros a partir de Porto Alegre. Ela nunca esteve muito no meu radar, confesso. A primeira vez que ouvi falar da cidade, ainda era criança, na descrição de uma amiga mais velha que fez lá sua viagem de conclusão da escola. Na faculdade, uma colega bageense tinha quase uma obsessão pelo veraneio em Punta. Eu só viria a conhecê-la no início dos anos 1990 e demorei mais de duas décadas para retornar. Fora de época, em março, revelou-se uma agradável surpresa, para além das festas e badalações da temporada. Preparei esse roteirinho para pessoas que, como eu, pouco sabem/conhecem da cidade.
O básico
Minha opção de transporte foi rodoaérea. Fui de Porto Alegre a Montevidéu num voo que leva uma hora, comprei a passagem de ônibus Montevidéu-Punta no site da COT e peguei o ônibus na porta do aeroporto para uma viagem de duas horas até lá (passagem por pouco mais de R$ 30). Na volta, fiz o mesmo: desembarquei do ônibus na porta do aeroporto. Durante a alta temporada, a Azul mantém um voo direto Porto Alegre-Punta. Uma vez na cidade, dá para fazer muita coisa a pé tranquilamente, e em segurança, mas, para os passeios mais longos, o ideal é carro/carro alugado. Desde o último dezembro existe a opção do aplicativo Uber na cidade, mas há poucos disponíveis e para as distâncias maiores acaba ficando caro. Fiz alguns trajetos de ônibus pelas praias vizinhas, o que também pode não ser uma boa ideia, já que fora de temporada os horários são muito espaçados.
A praia
Quem vai a Punta sabe que não encontrará água límpida nem quente nas praias do Rio da Prata (Praia Mansa) ou do Oceano Atlântico (Praia Brava). Por isso, é melhor ir bem avisado. Como eu usei a orla? Para caminhar, para ler um livro sob as palmeiras da beira da Praia Mansa, próximo ao porto (com pouco movimento na época, incrível o sossego, apesar de se estar próximo à rambla), para aproveitar os restaurantes que há ao longo dela... O porto é um capítulo à parte. Dá para ir para observar os leões-marinhos que buscam ali comida de graça junto aos pescadores, para comprar peixe e frutos do mar, para observar barcos e iates luxuosos ancorados, caminhar pelos molhes, aproveitar os restaurantes da volta… Quem vai à praia meesmo aproveita os paradores, alguns com DJs e aluguéis de cadeiras/guarda-sóis/bikes, dos calmos aos badalados, dos chiques aos descolados. Entre os da moda, estão os de La Barra, Bikini e José Ignacio.
Para comer
Fora da temporada, muita coisa fecha, mas consegui aproveitar alguns bons restaurantes. Destaco, entre clássicos e menos conhecidos, os que eu acho que vale a pena conferir: em José Ignacio, o Parador La Huella, um pé na areia delicioso, onde você ouve vários idiomas simultaneamente nas mesas vizinhas; o basco Leonardo Etxea (com atendimento tão simpático, que chega a constranger); o sofisticado Floreal, no boulevard gourmet, na Avenida Pedragosa Sierra, que reúne vários restaurantes; na rambla, na Mansa, o Lo de Tere, o Virazón e o Guappa. Próximo do meu hotel, para minha sorte, porque podia ir caminhando inclusive à noite, havia três ótimas opções: o Cuatro Mares, o Il Baretto e a parrillada Punta Salina.
Para passear
Escolhi dois roteiros básicos que, ao fim e ao cabo, levam ao mesmo lugar, mas considero imperdíveis: um passeio que se encerra com o pôr do sol em Casapueblo, em Punta Ballena, o ateliê/museu do artista Carlos Páez Vilaró. Em outra visita, havia ido mais cedo e não tinha acompanhado a "cerimônia" com a poesia ao pôr do sol, cuja gravação tem a voz de Vilaró, morto em 2014. Me emocionei com o sincronismo da leitura enquanto o sol vai desaparecendo no horizonte. É daquelas coisas "pega-turista" que me pegaram.
Num outro dia, saindo do porto de Punta (US$ 40 ou cerca de R$ 130), fiz um passeio de barco que parte uma hora antes de o sol se pôr para assistir à cerimônia a partir do Rio da Prata. Gostei de ver o final do dia por dois ângulos diferentes.
Museus para visitar
Você está num lugar com praia, tem sol lá fora e deve se perguntar: por que ir a um museu, meu Deus? Porque a primeira sugestão não tem nada a ver com um museu convencional: a Fundación Pablo Atchugarry, com pouco mais de 10 anos de existência, une arte e natureza e, apesar de contar com galerias em prédios fechados, tem inúmeras obras ao ar livre (mas atenção, fica longe da cidade, e é bom reconferir horários antes de ir).
A segunda, o Museo Ralli, fica no bairro Beverly Hills, onde estão as casas mais luxuosas de Punta, e tem um pátio de esculturas que, sozinho, vale a visita, com obras inclusive de Dalí (atenção, fora de temporada, abre só aos sábados e domingos, das 14h às 18h).
O terceiro, pelo que o nome evoca: o Museu do Mar, em La Barra, tem esqueletos de grandes mamíferos marinhos, a história de Punta e curiosidades sobre veraneios antigos, entre outras atrações que podem intessar a crianças (funciona todos os dias o ano inteiro).
Um lugarzinho especial
Não sabia que era tão recente, de janeiro deste ano. O que me atraiu até o Adrianuzca's Cat Café foram as vitrines com o aviso inusitado: não perturbe a "siesta gatuna". As portas estavam fechadas e voltei num outro dia para conferir a cafeteria onde são acolhidos gatos de rua para adoção. No lar transitório onde eles recebem comida, cuidados veterinários, vacinas etc, os animais circulam livremente entre os clientes numa simpática sala, onde é preciso entrar com cuidado e carinho. A retribuição é imediata: no meu caso, um filhote preto se afeiçoou e quase tive de sair dali levando-o comigo. Se fosse mais perto, talvez não resistisse. Fora de temporada, o café abre às sextas, sábados e domingos, das 10h às 21h.