Um leitor/colaborador enviou dias atrás um apelo sobre a situação da estrada de acesso a São Miguel das Missões, sede, como se sabe, de um dos poucos (são apenas 14) monumentos considerados Patrimônios da Humanidade no país. A ERS-536, escreveu ele, é uma sucessão de 16 quilômetros de crateras e o estado desse trecho preocupa os empresários locais, pelos prejuízos ao turismo, e mais ainda os visitantes, muitos deles argentinos que se aventuram por ela.
Atendendo ao pedido do leitor, publiquei uma nota na coluna que mantenho às terças-feiras no caderno Viagem de ZH. Nenhuma autoridade da área dos transportes ou do turismo se manifestou. Duvido que nesse meio-tempo algo tenha sido feito por lá. Normal.
Não é uma exceção. Boas estradas, no Rio Grande do Sul, é que são raríssimas. As perdas decorrentes disso são imensas: vidas ceifadas em acidentes, dificuldades para escoar safras e mercadorias, carros escangalhados... Mas vou me ater ao nosso ir e vir mais trivial, embora não menos importante, os nossos roteiros de final de semana, em busca de descanso ou pela ânsia de conhecer um pouco mais de nosso Estado, tão castigado e, ainda assim, tão bonito.
Percorri boa parte dos 200 e poucos quilômetros da ERS-020 no último final de semana. Meu destino, a terra dos cânions, Cambará do Sul. As curvas da estrada já seriam motivo de preocupação bastante para o motorista que precisa abstrair a estonteante paisagem do caminho e ter atenção total. Mas há outros muitos obstáculos a vencer: não há acostamento, o asfalto é cavoucado pela falta de manutenção em muitos pontos e sinalização, caros leitores, é coisa quase inexistente. Em dúvida sobre se estava na rota certa, já que não percorria havia bastante tempo o trajeto que leva de São Francisco de Paula a Cambará, ansiei por uma mísera plaquinha por quilômetros a fio, em pontos onde celular de última geração e telefonia 4G se revelam inúteis.
Estava a caminho do Parque Nacional de Aparados da Serra, uma das primeiras unidades de conservação no Brasil, um dos principais pontos turísticos do Estado, com desfiladeiros e paredões verticais de 700/800 metros, destino de milhares de visitantes a cada ano... É certo que quem procura a região está em busca de turismo de aventura, mas não é exatamente esse tipo de peripécia que os visitantes buscam. Fazer trilhas a pé para ter a visão da cachoeira mais bonita, explorar a Mata Atlântica, avistar a imensidão dos cânions é uma compensação e tanto, mas não precisa ser tão duro o caminho para alcançá-los.
Uma vez na cidade, a provação será percorrer os 18 quilômetros de estrada de chão que levam ao Itaimbezinho e os 23 até o Fortaleza, só para citar os mais fáceis. No final, estará um pequeno pedaço de paraíso, mas antes será preciso enfrentar o purgatório. A natureza fez a sua parte. Já os homens...