Dois colegas voltaram há poucos dias de Bombinhas (SC) e travaram mais ou menos o diálogo seguinte:
– Já avisei minha mulher: em fevereiro, não vou mais. É gente de-mais na praia!
– Não viste nada. Em janeiro é pior ainda.
E seguiram falando sobre como parece que se está em Buenos Aires na beira daquele mar cor de piscina, muito procurado por gente que tem filho pequeno, onde o espanhol corre o risco de se tornar língua oficial.
Enquanto falavam, fiquei cá lembrando com meus botões: acho que eu não reconheceria Bombinhas, considerando minha primeira e última vez na praia catarinense. Eram os anos 80. Estávamos – irmãos, cunhados e sobrinhos pequenos – hospedados na Meia Praia, em Itapema, e alguém nos disse: “Querem praia mesmo, vão para Bombinhas”.
Meia Praia já estava de bom tamanho para nós, mas depois de dias daquela mesmice praiana, nos tocamos para Bombinhas. Não vou recordar agora dos solavancos do trajeto, mas recordo que não foi tão fácil chegar. Lembro da praia vazia, do nosso deslumbramento e de como nos demos conta, um tanto tarde, de que a estrutura não era a mesma que tínhamos na nossa origem.
Nos refugiamos num quiosque que garantiria a caipirinha e o peixe frito do almoço, com um pouco de sombra do telhado de capim. Ao entrarmos, a cena congelou. Todo mundo que estava ali ficou nos observando. Caipirinha vai, caipirinha vem, cada um falando mais alto do que o outro e um de meus irmãos resolve dar um tapa na mesa e falar bem alto, em portunhol:
– Pero que se pasa acá?
A cena congelou de novo e logo recomeçou o burburinho. Foi quando nos demos conta de que éramos os únicos brasileiros no quiosque. Os demais eram todos argentinos e não tinham se espantado com a exclamação de meu irmão. Talvez até tivessem ficado um pouco satisfeitos.
Foi um de meus primeiros contatos com as pequenas e grandes multidões de argentinos que tomaram (e compraram!) as praias do sul do Brasil a partir dos anos 1980.
Definitivamente, não gosto de praia lotada, mas o diálogo de meus colegas me deixou curiosa sobre o destino de Bombinhas. Nem sabia que, desde 1992, ela tinha se tornado município e que tem, hoje, mais de14 mil habitantes, com uma população flutuante de 60 a 80 mil entre dezembro e março–o próprio site da prefeitura fala em até200mil! São tantos os turistas que a prefeitura criou, nos últimos anos, uma Taxa de Preservação Ambiental (TPA), que muitos chamam de pedágio.
Em tese, o dinheiro (R$ 26 nesta temporada para carros pequenos) serve para amenizar os impactos ambientais gerados exatamente por essa multidão que toma a praia de assalto por cinco meses ao ano (vai de novembro a abril). Talvez tenha sido tardia a ideia. Ninguém me perguntou, mas sou a favor: praias, sítios arqueológicos, museus, igrejas... precisamos protegê-los de nós mesmos. Sei que não vou reencontrar a Bombinhas dos longínquos anos 80 de novo, mas dá para ter pelo menos um alento.