Há muito, tinha curiosidade de conhecer Pirenópolis. Buscando na memória, a vontade vinha desde o final dos anos 1970, veja só, quando uma professora de literatura que tinha vivido em Goiás Velho (ou Cidade de Goiás, o nome oficial) me apresentou a poeta Cora Coralina e as duas cidades do interior goiano.Era, então, um mundo distante, tornado próximo só pela poesia e pela história. Tiveram de se passar quase 40 anos para eu finalmente desembarcar em uma delas, Pirenópolis, o arraial fundado no século 18 por garimpeiros e tombado como Patrimônio Histórico Nacional em 1988.
Para quem mora em Brasília, ir a Pirenópolis equivale ao "vou dar um pulo em Gramado" dos porto-alegrenses. Fica a 150 quilômetros da Capital Federal, em estradas bem conservadas. Se você optar por ir de ônibus de uma para outra, como foi o meu caso, a pequena viagem vira uma pequena aventura _ três horas e 15 paradas (basta o vivente acenar na estrada para o motorista parar), sem ar-condicionado.
O desembarque é numa rodoviária daquelas típicas de interior: um só guichê, um funcionário não muito disposto, um único táxi à espera. A pousada onde escolhi ficar, na área rural, de início me pareceu uma má ideia, pois estaria longe da cidade e das principais atrações. A impressão se dissipou ao chegar a um pequeno paraíso no meio do cerrado.
Eu estava a 15 minutos de carro do centro histórico, uma daquelas joias que vão se revelando aos poucos, em caminhadas sem pressa mas de não muitos minutos. Também não estava longe daquilo que os goianos buscam com avidez (porque não têm praia, me explicou um amigo): a água das mais de 80 cachoeiras catalogadas no município.
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Tinha comigo, além das atrações óbvias na área urbana (visitei todas as igrejas e museus possíveis, as pontes e as ruas do centro histórico), uma lista de restaurantes recomendados por amigos de amigos. Como a gastronomia é ponto importantíssimo nas minhas andanças, acabei me frustrando um pouco. É que minha estada seria de segunda a quarta-feira, enquanto a maioria dos restaurantes abre de sexta a domingo, algo que o pessoal que trabalha com turismo por lá tenta mudar, para atrair mais visitantes, mas ainda não conseguiu.
De todas as dicas gastronômicas, consegui pelo menos aproveitar uma: o brunch no Vagafogo, uma reserva particular do patrimônio natural criada, de forma pioneira, em 1990. Depois de umas quase duas horas de caminhada leve na mata, entre borboletas azuis e macacos que tentaram me acertar com mangas maduras, a refeição toda de produtos orgânicos, com geleias de frutas da região, caiu muitíssimo bem. Trouxe de lá ambrosia seca e flores de hibiscos cristalizadas, com as quais tenho me exibido ao dar um toque em musses e sorvetes.
Dos restaurantes de comida típica local, experimentei o As Flor, que não fica no centro histórico e onde, espontaneamente, talvez um turista não entrasse. Como foi bem recomendado, lá fui eu: um banquete com um número exagerado de pratos para uma única pessoa, com o melhor feijão tropeiro e a melhor farofa que já experimentei na vida. Comida à vontade e uma cerveja gelada por R$ 20. E a atenção da garçonete/cozinheira/proprietária toda para mim.
Um atrativo à parte na cidade, aliás, é a hospitalidade. Você não terá dificuldade para conversar e ouvir histórias. Da pessoa que atende no centro de recepção aos turistas àquela que dá informações a caminho do banco, passando pelo piloto do tuc-tuc disponível na praça para passeios em motos de baixa cilindrada.
Caminhar tranquilamente pelas ruas de arquitetura colonial bem conservada, ter contato com a natureza, ouvir histórias, comer bem. O que mais um turista pode querer?
O QUE VISITAR
Na cidade
As pontes - Sobre o Rio das Almas e a Dona Benta, ambas de madeira, do final do século 19 e início do século 20.
As igrejas - A matriz, do Rosário, incendiada em 2002 e totalmente restaurada anos depois; a do Carmo, que tem um museu sacro pequeno mas muito interessante, e a do Bonfim, que eu não visitei.
As festas - A cidade é famosa pela Festa do Divino (50 dias após a Páscoa) e pelas Cavalhadas e há inclusive um "cavalhódromo", uma arena onde ocorrem as "batalhas". Um museu, simples, ajuda a entender um pouco da cultura local.
Ambiente e aventura
As cachoeiras - Há mais de 80 cadastradas, de tamanhos variados e acessos idem. Há agências que fazem passeios, mas quem aluga carro pode chegar facilmente às mais conhecidas. Eu usei e recomendo a WooLog, com bom atendimento e preço justo comparado às demais. A melhor época é entre maio e julho, quando as cachoeiras estão mais cheias.
O Parque Estadual da Serra dos Pirineus - A 20 quilômetros da cidade, a área de cerrado tem formações rochosas e nascentes, além do Pico dos Pirineus, com 1.385 metros de altitude.
Cidade de Pedra - Um pouco mais distante, a 56 quilômetros da cidade, é um roteiro para se fazer na companhia de um guia experiente, pois tem cânions e labirintos entre as formações rochosas. A trilha, de 10 quilômetros, é considerada de dificuldade média e alta. Quem curte escalada tem um prato cheio.
COMO IR
- No meu caso, fui a partir de Brasília, de ônibus (você não consegue comprar a passagem online, é preciso ir até a Rodoviária Interestadual), em viagem de três horas. Transfers ou Uber custam entre R$ 250 e R$ 300 e, a não ser que você esteja viajando em grupo ou faça um pacote, não vale a pena. O que muita gente faz é alugar carro, o que vale a pena também para se deslocar na região.
- A partir de 1º de fevereiro, a Azul começará a operar dois voos semanais de Porto Alegre a Goiânia, o que pode ser boa opção, já que fica a 130 quilômetros da cidade.