Mesmo que dure poucos dias, a prisão preventiva do general Braga Netto envergonha o Exército Brasileiro. Com quatro estrelas e agora na reserva, o general deixou suas digitais em vários capítulos da fracassada trama golpista que tentou impedir a posse do presidente eleito em 2022. Seus acólitos (porque o fanatismo político não difere muito do religioso) repetiam o mantra "Lula não sobe a rampa". Reunidos nas portas dos quartéis e instigados pelos golpistas, eleitores do então presidente Jair Bolsonaro esperavam pelo milagre da recondução do perdedor, Jair Messias Bolsonaro.
Foi Braga Netto que, deixando de lado os intermediários, pediu ao grupo reunido no cercadinho do Palácio da Alvorada que tivessem fé, porque nos próximos dias alguma coisa iria acontecer. Era novembro e o general, em trajes civis, falou de forma cifrada o que qualquer bom entendedor interpretaria como um sinal de que algo estava sendo feito para impedir a posse de Lula:
— Presidente está bem, está recebendo a gente sem problema algum. Não percam a fé, é só o que eu posso falar pra vocês por enquanto.
Em seguida, respondendo a uma militante que reclamava de estarem "na chuva e no sol", emendou:
— Eu sei. Tem que dar um tempo. Eu não posso conversar.
Pela delação do tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens e faz-tudo de Jair Bolsonaro, e pelas investigações da Polícia Federal, sabe-se agora que o general estava no centro da trama golpista típica de república bananeira. Foi o comandante do mesmo Exército de Braga Netto, o general Gomes Freire, o primeiro a dizer não à trama golpista na alta cúpula das Forças Armadas. O outro foi o comandante da Aeronáutica, Baptista Júnior. Só o comandante da Marinha, Almir Garnier, ficou ao lado dos golpistas.
O depoimento dos dois comandantes foi crucial para as investigações que indiciaram Bolsonaro e outros 36 pela trama golpista, a maioria militares fiéis a Braga Netto. Sabe-se também, pelas quebras de sigilo telefônico, que Braga Netto tentou atrapalhar as investigações, o que tecnicamente se enquadra como obstrução da Justiça.
"Que golpe é esse que não teve tanques nas ruas?", bradam os indiciados e seus seguidores. Não houve tanques nas ruas porque os comandantes do Exército e da Aeronáutica, honrando a farda que vestem, não aderiram ao golpe. Não houve tanques nas ruas porque as tentativas de criar o caos para a decretação de estado de defesa ou de sítio, cogitados junto com a GLO (garantia da lei e da ordem), deram errado.
A baderna nascida no acampamento, com queima de carros e tentativa de invasão do prédio da Polícia Federal em Brasília, no dia da diplomação de Lula foi coibida. Deu errado o crime premeditado de explodir um caminhão carregado de querosene no aeroporto de Brasília, às vésperas do Natal, que mataria centenas de pessoas e criaria o caos para uma intervenção das Forças Armadas. E, por fim, deu errada a tentativa de tomar o poder por meio de uma manifestação engendrada para invadir as sedes dos Três Poderes naquele 8 de janeiro de 2023.
Braga Netto e todos os outros terão direito à ampla defesa e ao contraditório, mas contra eles há provas de que, sim, tentaram a "abolição violenta do Estado Democrático de Direito", crime previsto no Código Penal, "tentativa de golpe de Estado" e formação de organização criminosa.