Prefácio, como o nome diz, é um texto que se lê antes do conteúdo do livro. Situa o leitor sobre o que vem pela frente. No caso da Operação Capa Dura, que desvendou um esquema de corrupção na Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre, houve uma inversão: Prefácio (nome da operação deflagrada nesta terça-feira) é um desdobramento que vem depois do livro. Pode parecer estranho, mas faltava esclarecer a gênese do caso da compra de livros e materiais superfaturados que por algum tempo mofaram em depósitos tomados pela umidade e infestados de ratos.
No “livro” com o nome de Capa Dura lemos que a secretária Sônia da Rosa foi presa, assim como o empresário Jailson Ferreira da Silva, que vendeu materiais superfaturados para a prefeitura. No "prefácio" apresentado nesta terça-feira (12) temos o afastamento das funções públicas, por 180 dias, de pessoas que participaram de reunião com Jailson no gabinete do prefeito Sebastião Melo e que, segundo a investigação, teriam aberto portas para a negociata. Entre eles estão o ex-vereador Alexandre Bobadra, que teve o mandato cassado por causa de outras irregularidades, e o vereador em exercício Pablo Melo, primeiro suplente do MDB, que ocupa a vaga de Cezar Schirmer, secretário municipal de Planejamento. Pablo é filho do prefeito. Melo não foi acusado de envolvimento na fraude, nem está sendo investigado.
A Prefácio, terceira fase da Operação Capa Dura, liderada pela 1ª Delegacia de Combate à Corrupção (1ª Decor), investiga os supostos crimes de fraude licitatória, associação criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção passiva e ativa na Smed. Cumpriu 11 mandados de busca e apreensão no Rio Grande do Sul e dois pedidos de prisão preventiva.
Todos os investigados terão a oportunidade de se defender, mas o estrago já está feito. A corrupção é inaceitável em todas as áreas, mas na educação traz prejuízo duplo, ainda mais no caso de Porto Alegre, onde os resultados nos testes de aprendizagem são lamentáveis. O próprio prefeito reconhece que a educação vai mal e que terá de mudar radicalmente no segundo mandato.
A prefeitura comprou equipamentos e não treinou os professores para utilizarem em salas de aula. Comprou livros sem consultar os diretores e sem ter aval pedagógico. A investigação indica que toda a pressa para adquirir materiais que depois ficaram em depósitos tinha motivos escusos e resultou em casos de enriquecimento ilícito.