O jornalista Henrique Ternus colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço.
Mesmo com a negativa do governo Lula em criar uma Autoridade Federal para a reconstrução do Rio Grande do Sul, os idealizadores da Carta Pró-RS se apoiam em exemplos internacionais para defender a proposta. De acordo com o sociólogo Zeca Martins, que articula o documento, a retomada de uma cidade italiana após um terremoto e da Indonésia depois de um tsunami contaram com o apoio de agências unificadas.
Martins é coordenador da iniciativa Derrubando Muros, que se apresenta como um coletivo apartidário com mais de cem pessoas, entre ativistas, cientistas, comunicadores, acadêmicos, empresários e políticos. Passado o período de emergência após a enchente de maio, o grupo fez um levantamento para auxiliar o Estado, com análise de outras grandes catástrofes no mundo.
— Fomos buscar inspiração nos casos de recuperação bem sucedidos e notamos que a qualidade institucional definiu as chances de sucesso das sociedades atingidas. Ninguém se salva sozinho. Esse espírito precisa ser transladado à autoridade responsável pela recuperação — diz o sociólogo.
Dois casos observados são das cidades italianas Irpinia e Friuli, atingidas por terremotos em 1980 e 1976, respectivamente, com cerca de 4 mil mortos no total. Zeca Martins aponta que, enquanto a primeira teve o projeto de recuperação dominado por lobbies e pela máfia, Friuli constituiu uma autoridade unificada para cuidar da reconstrução e cresceu 23% acima da taxa que era projetada antes do terremoto:
— Outro caso que olhamos de perto foi o da Indonésia, atingida por um tsunami avassalador em 2004. Duzentas e trinta mil pessoas morreram e o país estava em guerra civil. Contra todos os prognósticos, celebraram um acordo de paz para enfrentar a tragédia. Uma autoridade foi constituída por período definido e missão específica. Profissionais foram convidados para liderar os trabalhos. A recuperação foi um sucesso. Passados 20 anos, o país tem crescido a taxas de 5% a 7% ao ano.
Martins ainda defende que os governos nem sempre terão clareza em relação às prioridades da sociedade, e por isso é importante que um grupo formado por representantes de diversos segmentos seja constituído e formalizado para o processo da reconstrução gaúcha.
— Sublinhamos que nosso esforço está em progresso, não somos um movimento hierarquizado, nem final. Queremos contribuir com o espírito de unidade cidadã, sem restrições, sem vetos, para que o Rio Grande siga os melhores exemplos.
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