Nesta quarta-feira (28) receberei uma das homenagens mais comoventes dos meus 64 anos de vida. Serei uma das 25 pessoas lembradas pela contribuição ao pavilhão da agricultura familiar, que está completando 25 anos de bons serviços na Expointer. Não sei se estou sendo homenageada por ter visto esse sonho virar realidade ou pelos quilos de produtos que consumi nesses anos todos de sabores que lembram a minha infância na roça e os cheiros ancestrais.
Há 25 anos, o então governador Olívio Dutra e seu vice, Miguel Rossetto, encamparam a ideia de reservar um cantinho da Expointer para os agricultores familiares mostrarem seus produtos. Era um espaço pequeno, disputando atenção com touros de raça, vacas leiteiras, cavalos premiados e pequenos animais que faziam a alegria das crianças. Os grandes produtores encontravam no Parque Assis Brasil todos os insumos de que precisavam nas suas fazendas, mas o público da cidade ia para conhecer os bichos ou levar os filhos para um breve contato com a vida no campo. Para não dizer que saíam de mãos abanando, devo registrar que muitos passavam no estandes e levavam sacolas e panfletos de recordação.
O pavilhão da agricultura familiar veio para mudar essa história. Os visitantes podiam comprar salames, queijos, chimias, pães e cucas e consumir ali mesmo, como se fosse um piquenique, ou levar para casa. A cada ano o interesse crescia mais, até que foi preciso destinar um pavilhão inteiro e ampliar a logística para ter sempre produtos fresquinhos.
Quem visita esse território sagrado da produção de alimentos raramente sai sem levar alguma coisa para degustar em casa. Os desgarrados que deixaram o campo para viver na cidade reencontram os cheiros e os sabores da casa dos pais, das avós, das tias que faziam marmelada, torresmo, copa, compotas e tudo o que era possível para aproveitar a produção sazonal. Hoje, além dos produtos tradicionais, compro flores, sementes e vinhos. Descubro a cada Expointer uma novidade para dividir com ouvintes e leitores e vejo com emoção o ofício dos meus pais se espalhando pelas feiras em geral, sempre com alguma inovação.
Tenho certeza de que onde estiver neste universo sem fim, meu pai estará feliz por saber que não foi em vão ter me ensinado a respeitar os ciclos da terra. Minha mãe, lá em Campos Borges, comemorará ter me ensinado que “saber não ocupa lugar” e que escrever qualquer pessoa é capaz, mas fazer geleia de marmelo não é para qualquer um.