Poucas vezes a expressão “medíocre” fez tanto sentido quanto agora para definir o desempenho dos estudantes do Rio Grande do Sul no Ideb de 2023. É preciso excesso de boa vontade ou de falta de ambição para enxergar alguma coisa de positiva nos números do Ideb deste ano, olhando-se o conjunto das escolas do Rio Grande do Sul.
Enquanto nos conformarmos com um nono lugar nos anos iniciais do Ensino Fundamental, empatados com Mato Grosso e Alagoas (nota 6), estaremos dizendo que renunciando ao protagonismo que sempre foi uma das pretensões dos gaúchos.
Poderia ser pior? Sempre pode, mas ficar atrás de Paraná (6,7), Ceará (6,6), São Paulo (6,5), Distrito Federal (6,4), Santa Catarina (6,4), Minas Gerais (6,3) e Goiás (6,3) e Espírito Santo (6,3) não é coisa de que possamos nos orgulhar. E esse não é o pior número: quanto mais se avança, pior fica.
Nos anos finais do Ensino Fundamental, o Rio Grande do Sul está em um desonroso 11º lugar, com nota 4,9, empatado com Minas Gerais, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul e Tocantins. Quem vem antes, com mais de 5? Ceará (5,5), Paraná (5,5), Goiás (5,5), São Paulo (5,4), Espírito Santo (5,3), Santa Catarina (5,2), Piauí (5,2), Distrito Federal (5), Pernambuco (5) e Alagoas (5).
Mas é no Ensino Médio que se expressa melhor a tragédia brasileira, com todos os Estados pontuando abaixo de 5. E o Rio Grande do Sul, de novo, lá no meio da tabela, sem que isso seja uma zona de desconforto para pais, professores e gestores públicos.
"Ah, mas teve a pandemia..." Sim, teve no mundo todo. O Rio Grande do Sul foi um dos primeiros a fechar as escolas e dos últimos a reabri-las. No Ideb de 2023 ficou em 10º lugar, empatado em 4,2 com Distrito Federal, Minas Gerais, Rondônia, Santa Catarina e Tocantins. Quem está à frente nessa etapa que encaminha os jovens para a universidade ou a vida profissional? Paraná, Espírito Santo, Goiás, Pernambuco, Piauí, São Paulo, Mato Grosso e Pará.
Ainda que ninguém tenha muito a comemorar, os Estados com melhor desempenho têm em comum uma coisa que faltou ao Rio Grande do Sul na linha do tempo: continuidade das políticas (da avaliação à formação de professores). Medidas na área de educação não produzem resultados no curtíssimo prazo. É preciso investir, persistir, corrigir a rota, avançar.
O péssimo desempenho dos alunos em língua portuguesa e matemática explica por que hoje sobram vagas em empregos que exigem maior qualificação. Falta mão de obra na área de tecnologia. Sobram vagas nas faculdades de engenharia, porque a matemática (sempre ela) afugenta candidatos. Mesmo nas universidades públicas de excelência, o interesse pelas engenharias despencou. Como despencou a procura elas licenciaturas, porque são poucos os alunos que saem do Ensino Médio querendo ser professores.
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