O jornalista Henrique Ternus colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço
"Acabou o nosso município". Essa foi a frase do prefeito de Eldorado do Sul, Ernani Gonçalves, no dia 5 de maio, em um dos primeiros contatos estabelecidos com o município após a enchente ter tomado conta de todo o território da cidade. A cidade ficou completamente isolada, e 31.964 pessoas — ou 80% da população de 39.559 habitantes — tiveram suas casas atingidas pela água.
Até o final de junho, os eldoradenses viveram sob o constante alerta de que os níveis do Guaíba e do Jacuí pudessem voltar a subir a qualquer momento. Os que conseguiram voltar para casa convivem com a difícil tarefa de limpar residências e ruas, além do acúmulo de entulhos por toda a cidade.
Para o futuro, a principal preocupação é com a possibilidade de uma nova enchente. Em novembro de 2023, 60% do território de Eldorado do Sul foi atingido pela cheia do Jacuí, a maior calamidade municipal até então. Na época, voltou ao debate público o projeto milionário para contenção de cheias na cidade, cujo primeiro estudo foi elaborado em 2016 e que prevê construção de um muro de contenção em todo o contorno norte da cidade, além de um grande aterro.
O projeto deve custar algo em torno dos R$ 500 milhões, valor que já foi anunciado pelo governo federal, no final de julho, para a construção do dique. O investimento da União é necessário, já que o orçamento anual da cidade fica na casa dos R$ 250 milhões.
A urgência de tirar tal projeto do papel e evitar novas calamidades, além de reconstruir uma cidade completamente devastada pela enchente de maio, são os principais desafios para os dois candidatos que postulam a sucessão em Eldorado.
Apesar de adversários, ambos têm o mesmo entendimento a respeito das três prioridades para o futuro da cidade: a construção do dique de proteção contra cheias, a elevação do viaduto da BR-116 (no acesso à sede do município) e o desassoreamento dos rios Jacuí e Guaíba, que afetam diretamente Eldorado do Sul.
MDB busca apoio do PT para sucessão
Em segundo mandato consecutivo — mas o quinto na carreira —, o prefeito Ernani Gonçalves não pode ser candidato à reeleição. Seu partido, o PDT, não terá candidato, mas vai integrar a coligação encabeçada por MDB e PT, que conta também com o apoio do Republicanos.
O candidato a prefeito é o vereador e ex-militar Fabiano Pires (MDB). O vice na chapa é o também vereador Juliano Soares (PT). Inicialmente, a ideia de Pires era seguir no Legislativo, e já tinha a campanha encaminhada, porém o cenário pós-enchente o motivou a disputar a prefeitura.
— A gente precisa trabalhar de uma forma muito forte num sistema de proteção eficiente. É preciso fazer um robusto investimento em todas as áreas, por isso a proximidade da nossa chapa com o governo federal. O segredo é gestão, boas parcerias institucionais, cada um vai ter que ajudar.
Oito partidos da direita se unem
Com críticas à gestão atual, a vereadora e ex-secretária de Saúde da atual gestão, Juliana Carvalho (PSDB), uniu a direita eldoradense em uma coligação com oito partidos. Os tucanos terão, além do Cidadania com quem compõem federação, o apoio de PRTB, PP, Podemos, Novo e Democracia Cristã. O oitavo partido na aliança é o PL, que indicou o vereador e bombeiro Giovani Martim como vice.
Juliana, que vai fazer campanha se colocando como oposição ao grupo que está no comando da cidade há cinco gestões, diz que não vê dificuldade de se relacionar com partidos da oposição ou com as esferas estadual e principalmente federal.
— O diálogo é fundamental, não tenho nenhuma porta fechada. O que o próximo prefeito vai ter que fazer é utilizar bem os recursos para garantir a reconstrução e cuidar da cidade. Temos que pensar, em primeiro lugar, em garantir a segurança da população e recuperar a esperança.
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